Revisão Literária
OS
ASPECTOS FUNDAMENTAIS DE UMA COSMOVISÃO CRISTÃ
Cosmovisão
é uma lente, através da qual um homem enxerga as coisas ao seu redor. Esta,
determina a sua relação com a realidade, influenciando diretamente em seus
pensamentos e ações. Trata-se de pressupostos, concepções acerca de algumas
questões fundamentais, que direcionam as ações de um determinado indivíduo. C.
S Lewis, com razão afirma: as diferentes
crenças sobre o universo levam a diferentes comportamentos.[1]
Este
pequeno trabalho tem como objetivo, versar sobre os principais elementos
formadores da cosmovisão cristã.
Para tanto, deve-se determinar
primariamente, quais são os principais elementos que formam uma cosmovisão,
seja ela cristã ou não. Quanto a este assunto, este trabalho comunga da posição
de Ronald Nash, que afirma serem os elementos mais importantes de uma
cosmovisão, o que se crê acerca dos seguintes aspectos: Deus, a realidade, o
conhecimento, a moralidade e a humanidade.[2]
1.
A
VISÃO CRISTÃ ACERCA DE DEUS
O
primeiro e mais importante elemento formador de uma cosmovisão é o que se crê
acerca da origem de todas as coisas. Tal elemento é o mais importante, pois
determina os demais elementos de uma cosmovisão. O que se crê acerca da origem
de todas as coisas, certamente influencia o que pensamos acerca das mesmas. Segundo
Kuyper, a relação fundamental do homem com Deus é requerida como a primeira
condição de um sistema de vida real.[3]
Algumas
perguntas a serem respondidas acerca deste assunto são: Qual a origem primeira
de toda a realidade? Deus existe? Deus é um ser pessoal, ou uma força ou poder
impessoal? Quantos deuses existem?
Os testemunhos bíblicos
realçam que Deus é a origem de tudo e de todos.[4]
Portanto, a visão cristã acerca da origem é clara e dogmática. A fé cristã
afirma que todas as coisas foram criadas por Deus. Os cristãos crêem que Deus inventou e fabricou o universo, como um homem que
faz um quadro ou compõe uma canção[5]. Este
Deus criador de todas as coisas é um Deus pessoal, que pensa, ama, e age, e,
portanto, as coisas criadas são expressões de seu ser, o que faz delas, em
última instância, coisas boas.
É este aspecto da cosmovisão cristã que
fundamenta todos os outros aspectos posteriores. A visão da realidade, do
homem, e da moralidade, são extremamente influenciadas pela existência de um
Deus pessoal que criou livre e soberanamente todas as coisas que existem.
2.
A
VISÃO CRISTÃ ACERCA DA REALIDADE
A
realidade é uma realidade criada. Ao contrário do que pensam alguns sistemas de
vida, o cristianismo não enxerga a matéria como um elemento eterno. Esta é uma
clara implicação da crença no fato de que Deus criou todas as coisas ex nihilo. A existência da realidade, então, para a fé
cristã, não se deve ao acaso, mas ao propósito eterno de um ser pessoal
supremo. Kuyper, afirma que, segundo o calvinismo, um sistema de vida cristão, é o decreto de Deus o fundamento e a origem
das leis naturais.[6]
Um outro aspecto da visão cristã acerca da
realidade, que deve ser considerado, e que a difere do Deísmo, é o
relacionamento do Criador com a sua criação. Ao contrário do Deísmo, que
entende que Deus, embora tenha criado todas as coisas, afastou-se delas, o
cristianismo afirma que o Criador se relaciona de maneira direta com a sua criação.
Para
a nossa fé bíblica e para a nossa orientação nos dias de hoje, o que importa é
apenas isto:este Deus – apesar de sua “transpessoalidade” – é um autêntico
interlocutor, amigo do homem e absolutamente confiável, um parceiro a quem
podemos dirigir a palavra.[7]
3.
A
VISÃO CRISTÃ ACERCA DO HOMEM
A
visão cristã acerca do homem está intrinsecamente ligada com a sua visão acerca
de Deus. Se Deus é o criador de todas as coisas, o homem é parte desta criação.
Portanto, o homem é um ser criado, e consequentemente não autônomo, e que está
sob a autoridade de seu criador.
Além
do fato de ser o homem, criado, a cosmovisão cristã lida com um paradoxo ao seu
respeito. A grandeza do homem e a sua miséria. Grandeza, por ter sido criado à
imagem e semelhança do Criador, com o propósito de dominar a criação e desenvolve-la para
a Sua glória. Miséria, por rebelar-se contra o Criador, e não ter se mantido no
estado em que fora criado.
Por isso, a
cosmovisão cristã reconhece a necessidade humana de perdão e redenção e
enfatiza que a benção da salvação é possível por causa da morte e ressurreição
de Cristo.[8]
4.
A
VISÃO CRISTÃ ACERCA DA ÉTICA
A
concepção cristã a respeito da ética e da moralidade é conseqüência dos
aspectos anteriores, principalmente de sua visão acerca de Deus. A existência
de um ser pessoal de quem toda a realidade procede, é o fundamento da ética
cristã.
A
cosmovisão cristã considera que o decreto de Deus é fundamento e origem, não
somente das leis naturais e físicas, mas também das leis espirituais e morais
que regem o universo[9].
O
Teísmo cristão insiste na existência de leis morais universais.[10] Ele
contraria qualquer relativismo ou subjetivismo ético ou moral. Para a
cosmovisão cristã, não é o homem, ou a sociedade, que define os padrões morais
para sua época. Mas, há padrões morais universais e atemporais que regem a vida
no universo. O homem, sendo criado, está sobre a autoridade do seu criador, e,
portanto, sujeito às leis morais estabelecidas por ele, quando da criação do
universo.
5. A VISÃO CRISTÃ ACERCA DO CONHECIMENTO
Basicamente,
a visão cristã acerca do conhecimento contraria o ceticismo. Ao contrário dos
céticos, que afirmam que o conhecimento de algo é inatingível, e que, portanto,
a verdade não existe, para o cristão, o conhecimento é possível, e por isso a
verdade existe e pode ser conhecida. Para o cristianismo, não somente o
conhecimento da realidade criada é uma possibilidade, mas também o conhecimento
de Deus. Esta possibilidade é fruto da revelação de Deus ao homem.
O
homem pode conhecer a Deus, porque Deus se revelou a ele. A primeira fonte de
revelação são as próprias obras de sua mão. Mas devido à rebeldia do homem
contra Deus, uma revelação proposicional foi dada por Deus, e esta registrada
na Escritura Sagrada. Esta é, portanto, a expressão da vontade de Deus, e das
leis morais estabelecidas por ele na criação, fundamento da ética cristã como
vimos acima.
Desta forma a Escritura é o meio através do
qual o homem pode conhecer verdadeiramente a Deus, a si mesmo, e a realidade
que o rodeia.
CONCLUSÃO:
Como
dissemos no início deste trabalho, os elementos de uma cosmovisão são o que se
crê acerca dos seguintes aspectos: Deus, a realidade, o conhecimento, a
moralidade e a humanidade. O que se crê acerca destas coisas determinará a
relação de um individuo com a realidade ao seu redor.
Os elementos de fé citados acima, são os
elementos básicos da fé cristã, e que devem dirigir a vida de alguém que se
denomina um cristão. Assim, pode-se perceber, através deste arrazoado, o que é
ser um cristão autêntico. Ser um cristão
de fato é possuir uma cosmovisão como esta descrita acima. Não apenas crer
nestes elementos supracitados, mas viver dirigido por eles. Viver na certeza da
existência de um Deus que a tudo criou. Que se relaciona com a sua criação e
possui um propósito para a mesma. Que estabeleceu leis naturais e morais, que
regem a vida no universo. Viver na
certeza de que somos seres criados, e, portanto dependentes e sujeitos à
autoridade daquele que é o Criador. Ser cristão é também ter a certeza de que é
possível conhecer a Deus e relacionar-se com ele através da sua revelação,
expressão da sua vontade à humanidade.
Por
fim, percebe-se também nesta exposição, que o cristianismo fornece ao ser
humano respostas satisfatórias às perguntas essenciais da vida. As perguntas
sobre o homem, o mundo, a origem. Perguntas estas, com as quais todo o ser
humano se deparou ou há de se deparar em algum momento de sua existência. O por
que e para que de si mesmo e de todas as coisas demais.
BIBLIOGRAFIA
|
KUNG, Hans. Por que ainda ser cristão hoje?.
Campinas, SP: Verus, 2004.
KUYPER,
Abraham. Calvinismo. São Paulo:
Cultura Cristã, 2002.
LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. São Paulo:
ABU. 1985.
NASH, Ronald H. Worldviews
in conflict. Grand Rapids ,
Michigan : Zondervan, 1992.
OBS.: O autor deste
artigo não foi informado na fonte. Por isso não consta nesta publicação.
[2]
NASH, Ronald H. Worldviews in conflict. Grand Rapids , Michigan :
Zondervan, 1992. p. 26.
[3] KUYPER, Abraham. Calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p. 30.
[4] KUNG, Hans. Por que ainda ser cristão hoje?. Campinas, SP: Verus, 2004. p. 33.
[5] LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. p. 20.
[6] KUYPER, Abraham. Calvinismo, p. 122.
[7] KUNG, Hans, Porque ainda ser cristão hoje?. p. 32.
[8]
NASH, Ronald H. Worldviews in conflict,
p. 51.
[9] Cf: KUYPER, Abraham, Calvinismo, p. 122-123.
Nenhum comentário:
Postar um comentário