Vivemos num mundo maluco. As riquezas
de Deus são consideradas lixo pelos homens. Aquilo que Deus estima, nós
desprezamos; o que nos atrai é repugnante para ele. Procurar glória na cruz de
Cristo é virar os valores humanos de cabeça para baixo. Contudo, no momento
mais negro e tenebroso da história humana, vemos luz penetrando as sombras, um
raio que nos convida a olhar atrás do óbvio, a buscar mais alto, acima da
sombra, a glória além.
Ao mesmo tempo, mas não em um mesmo
relacionamento, a cruz está como o ponto mais baixo da história e o ponto mais
alto da glória de Cristo. É tragédia e é vitória ao mesmo tempo. É escândalo e
honra, derrota e triunfo, vergonha e consideração. Paulo compreendeu a ironia
da cruz: "Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor
Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o
mundo" (GI 6.14). Na cruz, Paulo viu não apenas a crucificação de Cristo,
mas também a sua própria crucificação e a do mundo.
A cruz representa o grande sofrimento
de Cristo e, acima de tudo, sua morte. O sofrimento envolvido na crucificação
do Senhor é muito maior que a dor física. É mais do que a morte, é uma
expiação. Cristo é o cordeiro pascal. Ele assumiu sobre si nossos pecados e
agora precisa suportar o peso do desprazer divino pelo pecado. A missão do
Messias é sofrer e morrer em lugar de seu povo e Jesus precisa fazer isso. Ele
deve sentir a ira do Pai derramada contra o pecado. Ele não só será executado
pelo homem, mas também será abandonado por Deus.
Nos eventos em tomo da morte de Jesus
há os pequeninos raios de glória que conseguem escapar através da capa de
nuvens de humilhação. Vemos alguns desses pequeninos raios de glória no
registro de seu julgamento. Depois de ser traído por Judas, Jesus foi preso no
jardim do Getsêmani. Os oficiais que o prendiam o levaram primeiro a Anás,
sogro de Caifás, o sumo sacerdote; depois o levaram ao próprio Caifás. João
observa que foi Caifás quem recomendou ao Sinédrio que seria "conveniente
morrer um homem pelo povo" (Jo 18.14).
Caifás deu essa opinião estritamente
por motivos políticos. Ele temia represálias da parte de Roma se a popularidade
de Jesus aumentasse. "Represálias", aqui, significam crueldades da
parte dos governantes romanos para com os judeus, que eram dominados em sua
própria terra. Essas crueldades podiam envolver desde aumento de impostos até
opressão militar e uma grande matança de judeus, como aconteceu algumas décadas
mais tarde, quando Roma lançou uma campanha militar contra os judeus,
destruindo Jerusalém e o templo, além de matar uma imensa multidão de judeus.
Caifás não tinha nenhuma preocupação com justiça. Ele estava plenamente
disposto a sacrificar um homem inocente para manter a estabilidade política de
um povo conquistado.
Ao fazer esse juízo impiedoso, Caifás
dizia palavras muito mais proféticas do que imaginava. É claro que ele não
sabia o quanto seria importante para a nação Jesus ser morto. Ele não conseguia
enxergar além dos interesses próprios e da política nacional. No entanto, da
sua boca veio uma avaliação que possuía relevância para todo o mundo. A
execução de Jesus não teve mérito porque poderia acalmar um imperador romano
insatisfeito, mas porque satisfaria a justiça de um Deus irado.
A morte de Cristo foi
tanto uma propiciação como uma expiação pelo pecado. Propiciação significa
desviar a ira através do oferecimento de uma oferta imolada. A ira de Deus foi
satisfeita. Sua justiça foi cumprida através do sacrifício de Cristo. Por meio
de sua expiação, nossos pecados são perdoados. A expiação satisfaz tanto às
exigências do Pai quanto às necessidades do povo de Cristo. O fato de se
conseguir isso por meio de uma só pessoa em um só acontecimento é prova de
glória eterna.
Retirado da Revista "Palavra Viva" - A Glória de Cristo - Lição 10. II
Publicada pela Editora Cultura Cristã
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