1 – DESDOBRAMENTOS DECISIVOS NO SÉC XX
O interesse
contemporâneo na hermenêutica, aponto para uma nova época no estudo científico
da bíblia. Os observadores, veem o início dessa época no trabalho de Karl
Barth, um dos teólogos mais influentes dos modernos.
Uma das
principais obras de Barth foi um comentário sobre a epístola de Paulo a
Romanos, que causou um grande choque entre os estudiosos. Ao invés de focalizar
o significado histórico do texto, Barth ignorava esse significado por causa da
preocupação com a relevância do texto para o autor atual.
Surge então
Rudolf Bultman, que tinha em comum com Barth, essa grande preocupação com a
questão da relevância do cristianismo. Mas a ênfase de Bultman, era que todos
nós trazemos uma cosmovisão ao texto e que suprimir tal cosmovisão está fora de
questão.
Bultman
estava certo ao afirmar que é impossível interpretar a bíblia sem qualquer
pressuposição. O que precisamos saber, no entanto, é se as pressuposições de
Bultman estão ou não em conformidade com a dos escritores bíblicos.
Alguns
discípulos de Bultman tentaram ampliar suas ideias nos anos de 50 e 60, criando
alguns movimentos que não tinham nada a ver com o propósito tradicional da
hermenêutica.
Ao mesmo
tempo que esses desdobramentos estavam acontecendo no mundo acadêmico bíblico e
teológico, um conjunto de ideias paralelas estava se tornando expressivo no
campo da crítica literária.
O
inter-relacionamento entre as disciplinas da crítica literária, da filosofia e
da teologia tem afetado profundamente o debate nas últimas décadas. No entanto,
seria um erro supor que os debates contemporâneos sobre a hermenêutica sejam
meros jogos. Os desafios à abordagem tradicional são sérios e precisam ser pesados
cuidadosamente.
2 – MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO
Essa
abordagem foi elaborada numa oposição consciente tanto à interpretação
alegórica quanto à tendência natural que todos temos de interpretar o texto com
base em alguma língua moderna, e à luz dos nossos próprios costumes e
experiências.
Muitos
estudantes da bíblia têm rejeitado esse método, com base no fato de que ele é
incompatível com o caráter divino das escrituras. Precisamos entender, no
entanto o significado de: Histórico-crítico
já que não é usado por todos com o mesmo significado.
Precisamos
entender o termo crítica. No campo da
literatura, ela se refere à capacidade de avaliar a qualidade de obras
específicas. Já no estudo da bíblia é usada para se referir à investigação das
origens históricas, e a composição e transição de documentos literários.
O problema
surge, porém, por causa do estreito relacionamento que há entre o método
crítico e os princípios do iluminismo; que cria que a bíblia deveria ser
tratada como qualquer outro livro, e não como um livro de origem divina.
Quanto a
importância desses desdobramentos, creio que dois pontos precisam ser
enfatizados. Primeiramente, continua mesmo diante da antítese entre os
conservadores e os críticos a importância do conhecimento do sentido histórico
do texto.
Em segundo
lugar nos lembram que os compromissos históricos não podem ser separados dos
princípios hermenêuticos.
A ênfase dada
ao papel do conhecimento do leitor é um desdobramento saudável que não deve ser
ignorado.
3 – A AUTONOMIA DO TEXTO
Determinar o
sentido do texto não é uma tarefa simples. Para que haja interpretação, é
preciso que exista um autor, um texto, e um intérprete, e é exatamente aí que
pode ser gerada a confusão.
Consideremos
portanto, a possibilidade de interferência entre dois dos lados desse
triângulo: o autor e o intérprete.
Os estudiosos
bíblicos interessados no sentido histórico do autor original não estão
inconscientes desse problema, portanto para eles o problema foi apenas mais um
a ser vencido.
Com o surgimento
da “Nova crítica” os estudantes americanos de literatura começaram a ver esse
fenômeno não como um problema a ser resolvido, mas como uma oportunidade para
criatividade interpretativa. Surge-se então a fase da autonomia do texto.
Autonomia do
texto significa que o texto é separado não somente do seu autor, mas também da
realidade extralingüística à qual aparentemente o texto se refere.
A “Nova
Crítica” e os desdobramentos posteriores relacionados com a mesma, nos
ensinaram a prestar atenção na “textura” da literatura bíblica.
Desse modo, o
estudo da qualidade literária narrativa, mesmo que considerada independente de
sua referência histórica, pode ser de imenso valor para a compreensão da
relevância da história apresentada pela narrativa.
4 – O PAPEL DO LEITOR
Os
intérpretes da bíblia anteriores ao nosso século certamente estavam conscientes
do papel exercido pelos condicionamentos pessoais, mas eles simplesmente
achavam que esses condicionamentos podiam ser superados.
Para os
praticantes tanto do método histórico, quanto da “Nova Crítica”, a única coisa
que podia ser confiável era a objetividade do texto. No entanto, para os
proponentes da “teoria da resposta do leitor” Não existe um texto objetivo.
Alguns
pensadores consideram o conceito de contextualização como uma relativização da
bíblia que tira a sua autoridade.
Mas o que a
exegese deseja é total objetividade por parte do intérprete, de modo a impedir
que ele insira no texto qualquer significado senão o histórico.
A nova
abordagem nos ensina que se não sabemos o que a bíblia significa hoje, é
inquestionável se podemos saber o que ela significava no passado.
Reconhecemos
que a fim de valorizar o texto, o leitor precisa Ter um compromisso com ele.
Compromisso implica em conhecimento prévio, e tal preconceito não é somente
permissível, é necessário.
5 – INTENÇÃO AUTORIAL
É correto
afirmar que o sentido de um texto não deve ser identificado com a intenção do
autor de u modo exclusivo e absoluto. O apóstolo Paulo, jamais poderia ter antecipado
alguns problemas específicos enfrentados pelas igrejas cristãs do século XXI.
Quer admitamos ou não, a “aplicação” de uma declaração paulina àqueles
problemas envolve uma decisão sobre o sentido do texto que certamente não fazia
parte da intenção consciente do autor original.
Qualquer um
que creia que a origem primária da bíblia esteja em um Deus onisciente e
previdente, dificilmente irá duvidar que exista um considerável sentido no
texto bíblico do qual os autores humanos da bíblia não estavam completamente
conscientes.
Em suma, a
minha própria posição, é que o sentido do texto não precisa estar identificado
completamente com a intenção do autor.
CONCLUSÃO
Devemos ter
em mente que os mesmos estudiosos que desafiam o caráter determinado e a objetividade
do sentido continuam em suas próprias vidas que a interpretação é tanto
possível, quanto essencial.
Devemos saber
também, que os propósitos do Criador não podem ser frustrados pela natureza
humana. “Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim
vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei”(Is
55.10-11 ). Para o cristão, o sentido da revelação está inseparavelmente ligado
a Cristo, que veio para “explicar” ou “interpretar” o Pai, e cujas palavras temos
certeza, jamais passarão (Jo 1.18 ; Mc 13.3 ).
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