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sábado, 18 de agosto de 2018

ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS NA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

1 – DESDOBRAMENTOS DECISIVOS NO SÉC XX
O interesse contemporâneo na hermenêutica, aponto para uma nova época no estudo científico da bíblia. Os observadores, veem o início dessa época no trabalho de Karl Barth, um dos teólogos mais influentes dos modernos.
Uma das principais obras de Barth foi um comentário sobre a epístola de Paulo a Romanos, que causou um grande choque entre os estudiosos. Ao invés de focalizar o significado histórico do texto, Barth ignorava esse significado por causa da preocupação com a relevância do texto para o autor atual.
Surge então Rudolf Bultman, que tinha em comum com Barth, essa grande preocupação com a questão da relevância do cristianismo. Mas a ênfase de Bultman, era que todos nós trazemos uma cosmovisão ao texto e que suprimir tal cosmovisão está fora de questão.
Bultman estava certo ao afirmar que é impossível interpretar a bíblia sem qualquer pressuposição. O que precisamos saber, no entanto, é se as pressuposições de Bultman estão ou não em conformidade com a dos escritores bíblicos.
Alguns discípulos de Bultman tentaram ampliar suas ideias nos anos de 50 e 60, criando alguns movimentos que não tinham nada a ver com o propósito tradicional da hermenêutica.
Ao mesmo tempo que esses desdobramentos estavam acontecendo no mundo acadêmico bíblico e teológico, um conjunto de ideias paralelas estava se tornando expressivo no campo da crítica literária.
O inter-relacionamento entre as disciplinas da crítica literária, da filosofia e da teologia tem afetado profundamente o debate nas últimas décadas. No entanto, seria um erro supor que os debates contemporâneos sobre a hermenêutica sejam meros jogos. Os desafios à abordagem tradicional são sérios e precisam ser pesados cuidadosamente.

2 – MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO
Essa abordagem foi elaborada numa oposição consciente tanto à interpretação alegórica quanto à tendência natural que todos temos de interpretar o texto com base em alguma língua moderna, e à luz dos nossos próprios costumes e experiências.
Muitos estudantes da bíblia têm rejeitado esse método, com base no fato de que ele é incompatível com o caráter divino das escrituras. Precisamos entender, no entanto o significado de: Histórico-crítico já que não é usado por todos com o mesmo significado.
Precisamos entender o termo crítica. No campo da literatura, ela se refere à capacidade de avaliar a qualidade de obras específicas. Já no estudo da bíblia é usada para se referir à investigação das origens históricas, e a composição e transição de documentos literários.
O problema surge, porém, por causa do estreito relacionamento que há entre o método crítico e os princípios do iluminismo; que cria que a bíblia deveria ser tratada como qualquer outro livro, e não como um livro de origem divina.
Quanto a importância desses desdobramentos, creio que dois pontos precisam ser enfatizados. Primeiramente, continua mesmo diante da antítese entre os conservadores e os críticos a importância do conhecimento do sentido histórico do texto.
Em segundo lugar nos lembram que os compromissos históricos não podem ser separados dos princípios hermenêuticos.
A ênfase dada ao papel do conhecimento do leitor é um desdobramento saudável que não deve ser ignorado.

3 – A AUTONOMIA DO TEXTO
Determinar o sentido do texto não é uma tarefa simples. Para que haja interpretação, é preciso que exista um autor, um texto, e um intérprete, e é exatamente aí que pode ser gerada a confusão.
Consideremos portanto, a possibilidade de interferência entre dois dos lados desse triângulo: o autor e o intérprete.
Os estudiosos bíblicos interessados no sentido histórico do autor original não estão inconscientes desse problema, portanto para eles o problema foi apenas mais um a ser vencido.
Com o surgimento da “Nova crítica” os estudantes americanos de literatura começaram a ver esse fenômeno não como um problema a ser resolvido, mas como uma oportunidade para criatividade interpretativa. Surge-se então a fase da autonomia do texto.
Autonomia do texto significa que o texto é separado não somente do seu autor, mas também da realidade extralingüística à qual aparentemente o texto se refere.
A “Nova Crítica” e os desdobramentos posteriores relacionados com a mesma, nos ensinaram a prestar atenção na “textura” da literatura bíblica.
Desse modo, o estudo da qualidade literária narrativa, mesmo que considerada independente de sua referência histórica, pode ser de imenso valor para a compreensão da relevância da história apresentada pela narrativa.

4 – O PAPEL DO LEITOR
Os intérpretes da bíblia anteriores ao nosso século certamente estavam conscientes do papel exercido pelos condicionamentos pessoais, mas eles simplesmente achavam que esses condicionamentos podiam ser superados.
Para os praticantes tanto do método histórico, quanto da “Nova Crítica”, a única coisa que podia ser confiável era a objetividade do texto. No entanto, para os proponentes da “teoria da resposta do leitor” Não existe um texto objetivo.
Alguns pensadores consideram o conceito de contextualização como uma relativização da bíblia que tira a sua autoridade.
Mas o que a exegese deseja é total objetividade por parte do intérprete, de modo a impedir que ele insira no texto qualquer significado senão o histórico.
A nova abordagem nos ensina que se não sabemos o que a bíblia significa hoje, é inquestionável se podemos saber o que ela significava no passado.
Reconhecemos que a fim de valorizar o texto, o leitor precisa Ter um compromisso com ele. Compromisso implica em conhecimento prévio, e tal preconceito não é somente permissível, é necessário.

5 – INTENÇÃO AUTORIAL
É correto afirmar que o sentido de um texto não deve ser identificado com a intenção do autor de u modo exclusivo e absoluto. O apóstolo Paulo, jamais poderia ter antecipado alguns problemas específicos enfrentados pelas igrejas cristãs do século XXI. Quer admitamos ou não, a “aplicação” de uma declaração paulina àqueles problemas envolve uma decisão sobre o sentido do texto que certamente não fazia parte da intenção consciente do autor original.
Qualquer um que creia que a origem primária da bíblia esteja em um Deus onisciente e previdente, dificilmente irá duvidar que exista um considerável sentido no texto bíblico do qual os autores humanos da bíblia não estavam completamente conscientes.
Em suma, a minha própria posição, é que o sentido do texto não precisa estar identificado completamente com a intenção do autor.

CONCLUSÃO
Devemos ter em mente que os mesmos estudiosos que desafiam o caráter determinado e a objetividade do sentido continuam em suas próprias vidas que a interpretação é tanto possível, quanto essencial.
Devemos saber também, que os propósitos do Criador não podem ser frustrados pela natureza humana. “Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei”(Is 55.10-11 ). Para o cristão, o sentido da revelação está inseparavelmente ligado a Cristo, que veio para “explicar” ou “interpretar” o Pai, e cujas palavras temos certeza, jamais passarão (Jo 1.18 ; Mc 13.3 ).

Autor: Moisés Silva

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