Aqueles que defendem a eutanásia não
gostam de classificar o aborto como tal, mas existe muita semelhança, porque o
aborto, como está sendo amplamente praticado em vários países do mundo
ocidental, é o término de uma vida humana, baseado numa decisão utilitária de
outra pessoa. Também diz-se que o feto não possui ainda "qualidade de
vida". Podemos ver, assim, a semelhança da argumentação com a defesa da
eutanásia. Não é nosso propósito tratar do aborto, mas esse é claramente
contrário à palavra de Deus, que se refere ao feto como uma pessoa em vário
trechos (ex.: Salmo 51.5; Lucas 1.41).
Qual Seria o Padrão Para Determinar o Término da Vida?
Os
que defendem o término prematuro da vida dizem que a definição de interrupção
da vida não é aleatória, mas segue certas regras pré-estabelecidas. Por elas o
julgamento seria exercitado. Mas essas regras, quando examinadas, mostram-se
subjetivas e realmente aleatórias. Por exemplo, os defensores do aborto dizem
que o padrão de julgamento para sua execução é unicamente a mera vontade da
mãe: "a mulher é dona de seu próprio corpo...", dizem e se a gravidez
não tiver sido desejada a vida pode ser terminada. Nos abortos chamados de
"terapêuticos" os pontos a considerar são a possibilidade de morte da
mãe e a possibilidade de problemas físicos ou mentais, do bebê a nascer. É
fácil de ver que assim que abrimos portas começamos a atravessar barreiras
éticas estabelecidas pela Palavra de Deus e a tomar decisões egoístas, que não
nos competem e que fogem à nossa capacidade de conhecimento. Se as definições
nesse campo forem meramente práticas podemos, com facilidade, cair no que
ocorre na Índia onde o aborto é praticado, ainda que ilegalmente, como base de
seleção do sexo da criança. Semelhante definição é encontrada em muitas tribos
de índios, que matam o primeiro recém-nascido se for do sexo feminino (a antiga
prática da tribo Dâw, no norte do Amazonas, por exemplo, é a de deixar o
primeiro recém-nascido, se do sexo feminino, ao relento para morrer por falta
de cuidado).
Será que o padrão de término de uma
vida pode ser assim subjetivamente estabelecido? Ele poderia ser dependente
apenas da cabeça e das conclusões de cada um? Se esse padrão, ou essa maneira
de gerarmos padrões, for aceita, o que impedirá de partirmos da eutanásia e
aborto voluntário para a eutanásia e aborto imposto? O que impedirá que as
pessoas virem vítimas, não apenas de seus próprios pecados e decisões erradas
próprias, mas também de políticas populacionais, sociais, ou raciais,
estabelecidos por um organismo maior – governamental ou eclesiástico? Vamos
passar a defender o aborto obrigatório para diminuir os bolsões de pobreza? Não
podemos esquecer o que já aconteceu na história. Na Alemanha Nazista do III
Reich havia uma expressão: leibensunwertes Leben – "a vida que não vale a
vida". Com esse moto justificou-se o genocídio e a matança de judeus,
ciganos e pessoas aleijadas, pois a vida deles não "valia a pena ser
vivida". Hoje em dia vemos a nossa sociedade usurpar o lugar de Deus e procurar
passar a determinar sobre quem deve ou pode morrer, fugindo totalmente aos
padrões estabelecidos por Deus, em Sua Palavra.
Alguns Pontos Essenciais a Lembrar.
No meio desse debate, vamos nos
lembrar desses seguintes pontos essenciais que nos são ensinados na Bíblia:
a. A vida é uma dádiva preciosa de
Deus (Gen 1.20-25).
b. A vida humana é especialmente
preciosa, porque Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Devemos portanto
preservá-la e não tirá-la (Gen. 1.26 e 9.5-6).
c. A morte não é o fim e nem uma fuga
em si ao sofrimento, mas ela é o resultado do pecado (Rom. 6.23
d. Muitas vezes ela ocorre com
sofrimento e dor, nos propósitos insondáveis de Deus, como tribulação e dor
podem ocorrer sem relacionamento direto com a morte (2 Cor. 4.8-10).
e. Esse sofrimento nem sempre é uma
conseqüência direta do pecado (João 9.3), mas ocorre para que Deus seja
glorificado
f. O destemor da morte é uma
característica do servo de Deus (Fil. 1.21).
g. É verdade que servos de Deus muitas
vezes expressaram o desejo de morrer antes do tempo apontado por Deus, buscando
encontrá-lo (Fil. 1.23), mas submeteram-se à vontade de Deus em suas vidas,
sendo o exemplo maior o do nosso Senhor Jesus Cristo (Mat. 26.39).
h. O homem é limitado em sua
perspectiva e não pode definir os seus passos pelos resultados que espera
(pragmatismo) pois esses não lhe são conhecidos (Mat. 26.29
Os padrões
éticos do crente são encontrados na Palavra de Deus e nela achamos todo o
incentivo para valorizarmos a vida e nos empenharmos em preservá-la, suportando
as tribulações com paciência e perseverança, para a Glória de Deus.
Conclusão
Como
dissemos no início, eutanásia é um assunto complexo e nem todas as questões
podem ser respondidas. Nossas experiências variam, mas as Escrituras fornecem
uma âncora às decisões individuais que devem ser tomadas com a consciência
tranqüila perante Deus. Os princípios são claros e devem ser observados, mas a
aplicação específica nem sempre é tão evidente ou fácil. A maioria de nós terá
que tomar decisões, cedo ou tarde, sobre o cuidado de nossos amados que podem
se achar em situação de prolongado sofrimento. Outros trabalham em hospitais
superlotados e mal equipados onde as possibilidades para salvar vidas são
limitadas e escolhas são feitas a cada dia – quem deve ser salvo? Qual o caso
mais grave? Quem melhor "potencial" de vida? Quem tem "pior
qualidade" de vida? Como decidir o que não conhecemos? Podemos até nos
encontrar em uma situação na qual seremos participantes involuntários das
decisões de outras pessoas de maior autoridade.
É
importante sabermos que não nos compete tomar a vida, mas temos, sim, o dever
de preservá-la. Temos que nos lembrar que Deus ama aos Seus e está ciente dos
seus sofrimentos e das suas dores. Ele pode nos sustentar e nas ocasiões em que
tivermos de tomar decisões, vamos buscar a sua presença em oração, e, com a
Palavra de Deus na mão, aplicar os Seus princípios.
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