Todos
nós tomamos diariamente dezenas de decisões, resolvendo aquilo que tem a ver
com nossa vida, a vida da empresa e de nossos semelhantes. Ninguém faz isso no
vácuo. Antigamente pensava-se que era possível pronunciar-se sobre um
determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é, isenta de quaisquer
pré-concepções. Hoje, sabe-se que nem mesmo na área das chamadas ciências
exatas é possível fazer pesquisa sem sermos influenciados pelo que cremos. Ao
elegermos uma determinada solução em detrimento de outra, o fazemos baseados
num padrão, num conjunto de valores do que acreditamos é certo ou errado. É
isso que chamamos de ética: o conjunto de valores ou padrão pelo qual
uma pessoa entende o que seja certo ou errado e toma decisões. Cada um de nós
tem um sistema de valores interno que consulta (nem sempre, a julgar pela
incoerência de nossas decisões...!) no processo de fazer escolhas. Nem sempre
estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema, mas eles estão lá,
influenciado decisivamente nossas opções.
Os
estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas de acordo com o
seu princípio orientador fundamental. As chamadas ÉTICAS HUMANÍSTICAS
tomam o ser humano como seu princípio orientador, seguindo o axioma de
Protágoras, "o homem é a medida de todas as coisas". O hedonismo,
por exemplo, ensina que o certo é aquilo que é agradável. Freqüentemente somos
motivados em nossas decisões pela busca secreta do prazer. O individualismo e o
materialismo modernos são formas atuais de hedonismo. Já o utilitarismo
tem como princípio orientador o que for útil para o maior número de pessoas. O
nazismo, dizimando milhares de judeus em nomes do que é útil, demonstrou que na
falta de quem decida mais exatamente o sentido de "útil", tal
princípio orientador acaba por justificar os interesses de poderosos
inescrupulosos e o egoísmo dos indivíduos. O existencialismo, por sua
vez, defende que o certo e o errado são relativos à perspectiva do indivíduo e que
não existem valores morais ou espirituais absolutos. Seu principio orientador é
que o certo é ter uma experiência, é agir — o errado é vegetar, ficar inerte. O
existencialismo é o sistema ético dominante em nossa sociedade moderna, que
tende a validar eticamente atitudes tomadas com base na experiência individual.
A ÉTICA
NATURALÍSTICA toma como base o processo e
as leis da natureza. O certo é o natural — a natureza nos dá o padrão a ser
seguido. A natureza, numa primeira observação, ensina que somente os mais aptos
sobrevivem e que os fracos, doentes, velhos e debilitados tendem a cair e
desaparecer à medida em que a natureza evolui. Logo, tudo que contribuir para a
seleção do mais forte e a sobrevivência do mais apto, é certo. Numa sociedade
dominada pela teoria evolucionista não foi difícil para esse tipo de ética
encontrar lugar. Cresce a aceitação pública do aborto (em caso de fetos
deficientes) e da eutanásia (elimina doentes, velhos e inválidos).
Os cristãos entendem que éticas baseadas
exclusivamente no homem e na natureza são inadequadas, já que ambos, como os
temos hoje, estão profundamente afetados pelos efeitos da entrada do pecado no
mundo. A ÉTICA CRISTÃ, por sua vez,
parte de diversos pressupostos associados com o Cristianismo histórico. Tem
como fundamento principal a existência de um único Deus, criador dos céus e da
terra. Vê o homem, não como fruto de um processo evolutivo (o que o eximiria de
responsabilidades morais) mas como criação de Deus, ao qual é responsável
moralmente. Entende que o homem pecou, afastando-se de Deus; como tal, não é
moralmente neutro, mas naturalmente inclinado a tomar decisões movido acima de
tudo pela cobiça e pelo egoísmo (por natureza, segue uma ética humanística ou
naturalística). Um outro postulado é o de que Deus enviou seu Filho Jesus
Cristo ao mundo para salvar o homem. Mediante fé em Jesus Cristo, o homem
decaído é restaurado, renovado e capacitado a viver uma vida de amor a Deus e
ao próximo. A vontade de Deus para a humanidade encontra-se na Bíblia. Ela
revela os padrões morais de Deus, como encontramos nos 10 mandamentos e no
sermão do Monte. Mais que isso, ela nos revela o que Deus fez para que o homem
pudesse vir a obedecê-lo.
A ÉTICA
CRISTÃ, em resumo, é o conjunto de valores morais total e
unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua
conduta nesse mundo, diante de Deus, do próximo e de si mesmo. Não é um
conjunto de regras pelas quais o homem poderá chegar a Deus – mas é a norma de
conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na
revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são a vontade de
Deus para todos os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.
Autor:
Rev. Augustus Nicodemus
Lopes
* Artigo do Rev. Dr. Augustus Nicodemus
Lopes, publicado na revista MACKENZIE, edição nº 3
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