INTRODUÇÃO
Diante do quadro que hoje se
apresenta, no que diz respeito a interpretação do livro de Apocalipse,
principalmente com relação as diversas correntes escatológicas que foram
desenvolvidas neste último século, entendemos a necessidade de uma pesquisa
teológica-filosófica disposta a analisar a escatologia contemporânea, a partir
do livro de Apocalipse, com uma ênfase nas questão dos conceitos do milênio e
suas correntes de pensamento.
Mostrar o significado dos termos
Amilenismo, Pós-milenismo e Pré-milenismo, bem como o bojo de suas principais
doutrinas e argumentações propostas para apoia-las, suas implicações na
teologia atual com aspectos negativos e positivos de cada uma delas é o
objetivo desta pesquisa.
Toda dificuldade reside
quanto a interpretação em especial das passagens de Daniel 2 e Apocalipse 20,
onde muitos tentaram explicar a volta de Cristo através de sistemas como os
acima citados, a situação ainda é mais difícil quando passa do campo sobre a
volta de Cristo para a natureza e forma da Segunda vinda, onde se dá as maiores
diferenças entre as correntes contemporâneas da escatologia.
I.
O AMILENISMO
1.1
A APLICAÇÃO E
SIGNIFICAÇÃO DO TERMO.
Normalmente se costuma
criticar o amilenismo por acharem que ele é demasiadamente negativo, aplicando
seus esforços principalmente em fazer oposição aos sistemas escatológicos de
que discorda. Deixando de lado a questão de se esta crítica é verdadeira ou
falsa, este trabalho pretende mostrar algumas afirmações positivas feitas por
teólogos amilenistas.
O termo amilenismo não é muito apropriado ou
adequado, pois sugere que os amilenistas não crêem em qualquer tipo de milênio
ou simplesmente ignoram os seis primeiros versos de Apocalipse 20, que falam de
um reino milenar. Nenhuma destas duas afirmações é verdadeira, afirma Anthony ª
Hoekema[1].
Apesar de ser verdade que os amilenistas não crêem em um reino terreno literal
de mil anos que se seguirá ao retorno de Cristo, o termo amilenismo não é uma descrição precisa do seu ponto de vista.
Alguns substituem o termo
amilenismo pela expressão milenismo realizado, que com certeza,
descreve a posição “amilenista” de forma mais precisa que o termo mais comum,
já que os “amilenistas” crêem que o milênio de Apocalipse 20 não é exclusivamente
futuro, mas está hoje em processo de realização. Porém, apesar de limitado
utilizarei o termo mais comum, amilenismo.
1.2
A HISTÓRIA DO AMILENISMO.
Alguns têm achado
elementos amilenistas bem cedo na história da Igreja Cristã. Erickson afirma
que "na Epístola de Barnabé, um tipo muito primitivo de escatologia
amilenista"[2]
pode ser percebido. O amilenismo tem estado presente, numa forma nem sempre
diferenciada do pós-milenismo, durante longos períodos da história da Igreja.
Ainda que não tenha
havido nenhum amilenismo radical nos primeiros séculos da Igreja, elementos
amilenistas, no mínimo, provavelmente estavam presentes. Foi Agostinho, porém,
aquele que sistematizou e desenvolveu a abordagem; o argumento mais
significante que Agostinho fez é que o milênio não é primariamente temporal nem
cronológico, seu significado, pelo contrário, se acha naquilo a que simboliza;
Esta tradição continuou na Igreja nas vertentes católicas e protestantes até o
século dezenove, quando o pós-milenismo foi desenvolvido pela primeira vez de
modo total e abrangente se separando do amilenismo.
Com o declínio do
pós-milenismo durante o século vinte, números consideráveis de pós-milenistas
anteriores acharam necessário ajustar sua escatologia. Porque o pré-milenismo
representava uma alteração por demais radical, a maioria optou pelo amilenismo.
O surto do amilenismo, portanto, pode ser relacionado com os eventos que
precipitaram a crise para o pós-milenismo. Para alguns, era claramente uma
mudança de doutrina.; Para outros, era simplesmente adotar uma posição sobre um
ponto-de-vista a respeito do qual não tinham tomado posição antes.
Hoje ,em nossos dias, na
sua grande maioria, os conservadores dos grupos reformadores históricos são
amilenistas (Presbiterianos e outros).
1.3
A ESCATOLOGIA AMILENISTA.
Este esboço cobrirá duas
áreas da escatologia amilenista: A escatologia inaugurada - Aspecto da
escatologia que já é presente hoje, na
era do Evangelho; E a escatologia futura.
1.3.1
A Escatologia Inaugurada:
A)Cristo conquistou a
vitória decisiva sobre o pecado, a morte e Satanás. O dia mais importante
na História, portanto, não é a Segunda Vinda de Cristo, que é ainda futura, mas
a primeira vinda, que ocorreu no passado;
B)O Reino de Deus é ao
mesmo tempo presente e futuro. Os amilenistas não crêem que o reino
de Deus seja primeiramente um reino judeu envolvendo a restauração de forma
literal do trono de Davi. E também não crêem que por causa da descrença dos judeus
de sua época Cristo tenha adiado o estabelecimento do reino para a época de seu
reino futuro no milênio, na Terra. Os amilenistas crêem que o reino de Deus foi
fundado por Cristo na época de sua peregrinação na Terra, está operante hoje na história e destina-se a
ser revelado em sua plenitude no porvir;
C)Apesar do último dia ser
ainda futuro, estamos hoje nos últimos dias. Os amilenistas entendem a expressão
"últimos dias" não meramente como referência à época imediatamente
anterior à volta de Cristo, mas como uma descrição do tempo entre a primeira e
a segunda vinda de Cristo;
D)No que concerne aos mil
anos de Apocalipse 20, estamos hoje no milênio. A posição amilenista
sobre os mil anos de Apocalipse 20 implica em que os cristãos que vivem hoje
estão gozando os benefícios do milênio, pois Satanás foi preso - estar preso
não significa que não esteja ativo - por todo este período ele não pode enganar
as nações e nem impedir a propagação do Evangelho e das missões. Um segunda
implicação é que durante este período de mil anos as almas dos crentes que
morreram estão já vivendo e reinando com Cristo no Céu enquanto esperam a ressurreição
do corpo.
1.3.2
A Escatologia Futura:
A)Os "sinais dos
tempos" aplicam-se tanto ao presente quanto ao futuro. Os amilenista crêem que
a volta de Cristo será precedida de certos sinais, porém, estes sinais não
devem ser encarados como se referissem exclusivamente a época logo antes da
volta de Cristo. Eles tem estado presentes de alguma maneira desde o princípio
da era Cristã;
B)A segunda vinda de Cristo
será um único evento.
Os amilenistas não encontram base bíblica para a divisão que os dispensacionalistas
fazem da segunda vinda em duas etapas, com um período de sete anos. Compreendem
a volta de Cristo como um evento único;
C)Na volta de Cristo haverá
uma ressurreição geral tanto de crentes quanto de não crentes;
D)Após a ressurreição, os
crentes ainda vivos serão repentinamente transformados e glorificados. A base deste ensino é o
que Paulo diz em 1Cor.15:51,52;
E)Acontece então o
"arrebatamento" de todos os crentes. Os crentes que acabaram de
ressuscitar dos mortos, juntamente com os crentes ainda vivos que acabaram de
ser transformados, serão agora arrebatados entre nuvens para o encontro com do
Senhor nos ares (1Tes.4:17);
F)Segue-se o juízo final. Enquanto os
dispensacionalistas costuma ensinar que haverá pelo menos três julgamentos distintos,
os amilenistas discordam. Eles vêem evidências escriturísticas apenas para um
único Dia do juízo, que ocorrerá na época da volta de Cristo. Todos os homens
comparecerão então perante o trono de julgamento de Cristo;
G)Após o julgamento é
introduzido o estado final.
Os incrédulos e todos aqueles que rejeitaram a cristo passarão a eternidade no
inferno, enquanto os crentes entrarão na glória eterna na nova terra.
1.4
ASPECTOS DO AMILENISMO.
Ao examinarmos as
características do Amilenismo percebemos algumas semelhanças com o
pós-milenismo e total discordância com o pré-milenismo. Isto gera alguns
aspectos ,tanto positivos ,como negativos.
1.4.1
Pontos Positivos:
Do lado positivo, o
amilenismo reconhece que a profecia e escatologia bíblicas fazem uso de grande
quantidade de simbolismo. Os amilenistas, de modo geral, tem procurado levar a
sério a natureza da literatura bíblica e tem perguntado o que esta sendo
transmitido dentro daquele meio ambiente cultural, reconhecendo que o
simbolismo pode estar presente e operante ainda quando não é obvio.
Em segundo lugar, o
amilenismo tem procurado fazer exegese séria das passagens bíblicas relevantes,
como Daniel 6 e Apocalipse 20.
E por fim o
amilenismo, tem uma filosofia realista da história.
1.4.2
Pontos Negativos:
As maiores dificuldades
do amilenismo se concentram na interpretação das duas ressurreições e um
pessimismo sobre as condições da humanidade que antecedem a segunda vinda de
Cristo.
A interpretação
convencional amilenista é que há dois tipos diferentes de ressurreição, uma
ressurreição espiritual e uma física, respectivamente. Mediante um exame
pormenorizado, no entanto, pergunta-se se isto cria uma distinção onde não existe
nenhuma.
O
segundo e último aspecto negativo é que os amilenistas passam um pessimismo exagerado
quando não acreditam num crescimento da justiça em escala mundial, um período
de paz para humanidade e nem que a evangelização será bem sucedida como um
sinal para a volta de Cristo. Cristo voltará mas não necessariamente estes
episódios terão que anteceder sua volta.