Apesar de termos caído e pecado, este conhecimento natural de Deus não foi aniquilado:
ele foi deturpado. Calvino ensinou que no homem encontram-se apenas as ruínas
da imagem de Deus. Ele não disse que já não se pode encontrar nada, mas sim que
são ruínas. Afinal, fomos criados à Sua Imagem (Gn 1.27); e mesmo caídos,
continuamos sendo criaturas de Deus, amadas por Ele. Daí surge uma das
doutrinas fundamentais da Reforma Protestante: aquela concernente à lei e ao
evangelho, como articulada na Formula da
Concórdia (luteranismo) os nas Institutas
(calvinismo).
1. Usus politicus (usus legis civilis)
- A lei como orientação, regendo a vida política e civil de uma sociedade. A
função da lei é impedir que o homem de faça o que bem entende. Aqui se fala da
utilidade pública da lei até a história humana chegar a seu fim por intervenção
divina. “este uso ou oficio político é necessário para que o homem e a
comunidade tenham tranquilidade, e para impedir a desordem e o caos” (Calvino, As Institutas, vol II, 1985, p. 119).
2.
Usus
elenchthicus legis (Theologicus) – a lei como um apelo a
conversão, ou seja, revelar os pecados do omem e levá-lo a Cristo. Este uso
(função da lei moral) pode ser comparado a um espelho... isso significa que a
lei sempre acusa. Assim, Deus usa a lei para nos mostrar que somos pecadores
perdidos, revelando nossa condição desesperadora ante a santidade dEle (Rm
3.19,20).
Enquanto o legalista acredita que a lei é um meio
pelo qual o homem pode justificar-se, o cristão crê que a função fundamental da
lei é revelar nossos pecados e conduzir-nos a Cristo – usus paedagogicus: a lei é um pedagogo que nos leva ao Salvador (Gl
3.24). A função da lei é fazer um apelo à conversão e ao arrependimento,
calando toda boca e tornando todos culpáveis diante da santidade de Deus.
3.
Usus
tertus in renatis – o uso da lei para os renascidos pode
ser comparado a uma regra. A principal função é orientar os cristãos em sua
conduta moral. A lei não foi eliminada, pelo contrario, foi consolidada para o
cristão. Quando se diz que a lei foi cumprida em Cristo porque Ele é o fim da
lei (Rm 10.4), isto significa que o pecador recebe a justificação e a
libertação da maldição da lei, mas não significa que a lei deixou de ter
validade moral (ler Rm 3.31). Porém, devemos evitar cair no legalismo ou no
antinomismo. “Embora a lei não seja nosso salvador, ela é o nosso guia”. Melanchthon
diz que os regenerados necessitam da lei para obter apoio e direção, pois estão
afligidos por fraquezas e caem com facilidade. Para Calvino os fiéis tiram
proveito da lei, pois “ela lhes é um ótimo instrumento para fazê-los entender
melhor e mais precisamente, dia a dia, qual é a vontade de Deus, a que aspiram,
e firmá-los no conhecimento desta” (Calvino, citado por A. Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, 1990,
p. 292).
Próximo artigo: O LUGAR E A FUNÇÃO DA CONSCIÊNCIA
NA ÉTICA CRISTÃ
Em meio ao povo evangélico,
existem muitas interpretações errôneas quanto ao lugar e à função da
consciência. Isso resulta da falta de ensino adequado e da carência de pesquisa
bíblica consciente, além da influencia do secularismo.
Do Livro “A ÉTICA DOS DEZ MANDAMENTOS” Um modelo da ética para os
nossos dias, De Hans Ulrich Reifler – Vida Nova.
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