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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um Pouco de Ética Vista por João Calvino

Sobre a vida Cristã

Tal como na filosofia a religião Bíblica trata de algumas finalidades como: da honestidade e da retidão dos quais se deduzem os deveres particulares e todas as ações próprias de cada virtude, porém, de maneira muito melhor e mais certa em função do Espírito Santo.

Divisão Bíblica do assunto

1. Visa imprimir em nosso coração o amor pela justiça, para o qual por natureza nós somos inclinados.

2. Visa dar-nos uma regra definida para que, seguindo-a não fiquemos vagando sem rumo certo e não edifiquemos mal a nossa vida.

• Padrão divino – Santidade

• Sede santos porque Deus é santo (1Pe 1.16)

• Somos ovelhas com pastor – comunhão, união, santidade

• Quem habitará no seu Tabernáculo (Sl 15.1-2)

• Cristo, nosso redentor e nosso modelo

A Escritura nos desperta vivamente, demonstrando que, assim como Deus em Cristo nos reconciliou consigo, assim também Ele nos constituiu em exemplo e padrão ao qual devemos nos moldar-nos. Portanto, o bem dos filhos de Deus é tornar-se cada vez mais identificado com o seu Senhor (Rm 8.29-30). Devemos ter diante de nossos olhos como nossa meta a perfeição que Deus ordena para a qual todas as nossas ações devem ser canalizadas e a qual devemos visar – “A vontade de Deus é a regra pela qual devemos regulamentar todos os nossos deveres” (As Pastorais de Calvino, p. 59). Assim sendo, é dever cristão fazer todos os esforços possíveis para alcançar a perfeição sem acariciar o ego com vã adulação ou desculpas dos erros morais. Calvino diz: “Sejamos cada dia melhores do que somos, ate alcançarmos a bondade suprema, que devemos buscar durante toda a nossa vida, pois, não somos de nós mesmo” (Rm 12.1; 14.7,8)

Serviço a Deus

O cristão deve obediência a Palavra de Deus, como também o despojar dos próprios sentimentos, convertendo-se e sujeitando-se ao Espírito de Deus – transformação pela renovação da mente (Rm 12.2). Devendo, ele, buscar o que agrada e glorifica a Deus, não a si mesmo – esquecer de si mesmo, dedicando-se com fidelidade e diligente esforço para obedecer aos Mandamentos – deixar de lado pecados como a avareza, a ambição, glória humana e outros males ocultos. A abnegação ou renúncia de nós mesmos em parte visa o bem dos homens e principalmente, visa à nossa relação com Deus.

A Escritura nos ordena que nos portemos de tal maneira para com os homens que os prefiramos em honra a nós próprios; é dever nosso promover o seu progresso. Calvino nos alerta que o nosso coração tende a não cumprir os Mandamentos, a não ser que nos esvaziemos de nós mesmos para exaltar a Deus – Não há ninguém que, no íntimo do seu coração, não alimente a fantasia de que tem dignidade superior à de todos os demais.

Para que aja bons relacionamentos, é necessário tratamento de modéstia e moderação, como também brandura e companheirismo – “Ninguém jamais chegará por outro caminho à verdadeira mansidão, a não ser dispondo-se de coração a rebaixar-se a si mesmo e a exaltar os outros”. (O amor de 1Co 13.4-7)

“É difícil cumprir o dever de trabalhar pelo proveito do próximo. É preciso deixar de lado a consideração de si mesmo e despojar-se de todo afeto ou interesse carnal, para fazer alguma coisa nessa esfera. É difícil deixar perder nossos direitos para cedê-los ao nosso próximo por causa do orgulho persistente, a autoconfiança e a falta de humanidade”.

Só o amor nos habilita a mortificar-nos – Não consiste em apenas cumprir todos os deveres, mas em cumpri-los movidos pelo verdadeiro amor. Primeiro, devemos nos colocar no lugar da pessoa que tem necessidade de ajuda; Segundo, que tenhamos piedade, como se estivesse passando pela mesma situação e; Terceiro, deixarmos ser movido pelo sentimento de misericórdia ao ajudá-lo, como se fôssemos os necessitados de socorro.

O modo legítimo de usar tudo que recebemos pela graça do Senhor, é compartilhando fraternalmente e liberadamente, visando ao bem do próximo. (1Co 12.12; Ef 4.15,16). Precisamos fazer o bem a todos, quer mereçam quer não – Não nos cansemos de fazer o bem (Gl. 6.10) a todos os homens, considerando em todos eles a imagem de Deus, ao qual devemos honrar e amar; qualquer um que necessite do nosso auxílio, nada justifica que nos negaremos a servi-lo, fazendo para Deus (Is 58.7; Mt. 5. 39-45).

Sobre a prática de Caridade, Calvino diz: “Ao praticar uma caridade, os cristãos deveriam ter mais do que um rosto sorridente, um expressão amável, uma linguagem educada (...). Em primeiro lugar, deveriam se colocar no lugar daquela pessoa que necessita de ajuda” (A verdadeira vida cristã, p. 39)

Devemos Honrar a Deus

O comportamento Cristão na riqueza e na pobreza; a partir dos princípios estabelecidos nas Institutas:

• Em tudo devemos contemplar o Criador e dar-lhe graça;

• Devemos cultivar o tipo de sensibilidade espiritual que nos faça enxergar com gratidão e louvor os atos de Deus em nossa existência, a fim de não sermos injustos para com Ele;

• Os recursos de que dispomos devem ser um estímulo a sermos agradecidos a Deus por Sua generosa bondade;

• Não devemos buscar honras, riquezas e alta posição sobre os quais pesa a maldição de Deus. Seria loucura querer algo que traz infelicidade, pois o único meio de prosperar é a benção de Deus e sem ela nos sobrevirão misérias e calamidades. Não devemos, por isso, procurar conseguir riquezas, nem usurpar honras a torto e a direito, pela violência, por trapaça e por outros meios escusos, mas buscar obter o que não nos faça culpados diante de Deus.

Carregando a cruz

• Os da família de Deus devem preparar-se para uma vida de dureza, de luta, de inquietude e de tribulação de vários tipos, pois é vontade de Deus que sejam provados e exercitados (Mt 16.24).

• Sabendo que somos inclinados a amar este mundo presente, Deus emprega meios mais apropriados para evitar que nos apeguemos excessivamente a ele. Para corrigir este mal o Senhor nos dá prova constante da vaidade desta vida por meio de aflições e angústias.

• A terra deve ser para o cristão apenas um lugar de peregrinação, por isso deve-se fazer uso das suas coisas boas de tal maneira que os ajudem, e não impeçam, em sua viajem ao reino celestial.

Regras gerais das Escrituras que orienta o cristão

• Saber usar as dádivas de forma correta com a finalidade para as quais Deus criou, ou seja, para o bem e não para a ruína (ex: comidas, ervas, árvores e frutos); por isso, tudo foi considerado bom.

• Não há trabalhos insignificantes: “Se seguirmos fielmente nosso chamamento divino, receberemos o consolo de saber que não há trabalho insignificante ou nojento que não seja verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus”.

• O amor ao próximo faz com que o nosso honesto trabalho não se limite a satisfazer as nossas necessidades, mas, também, a ajudar aos nossos irmãos.

• O trabalho está relacionado com o progresso de toda a raça humana.

• A doutrina da justificação pela fé nos reconcilia com Deus, anula o poder das obras para a salvação, nos declara justo, porém nos exorta a glorificar a justiça de Deus em Cristo, que é o justificador daquele que crê. A doutrina da justificação não nos torna inimigos de boas obras, pois elas têm o seu lugar de utilidade para a glória de Deus.

A liberdade cristã, conforme Calvino consiste em três coisas:

1ª. A lei não pode fazer com que o homem seja justo; para isso ele precisaria de toda a lei.

2ª. Como podemos prestar obediência à vontade de Deus alegremente, se soubéssemos que a imperfeição da nossa obediência apenas obteria sua maldição? Somos libertos para obedecer a sua vontade.

3ª. Quanto às coisas indiferentes (que não são ordenadas nem proibidas), os crentes não sejam, impedidos por qualquer escrúpulo de consciência devido usar ou abster-se delas, conforme requeira a ocasião – “Eu sei” diz Paulo, “e disso estou persuadido no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é em si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera, para esse é impura” (Rm 14.14). Com essas palavras ele nos dá liberdade para usar todas as coisas, se essa liberdade for permitida por nossa consciência diante de Deus. Resumindo, o cristão tem liberdade para usar todas as dádivas de Deus sem escrúpulos ou inquietude, desde que somente as usem para a finalidade a qual Deus as deu, ou seja, sua própria glória.

Por fim, para que não compliquemos tudo, por nossa temeridade e loucura, Deus ordenou a cada um, o que fazer, estabelecendo distinções entre posições ou estados e diversas maneiras de viver. E, para que ninguém ultrapasse levianamente os limites, deu tais maneiras de viver o homem de vocações (profissões).

Da oração do Senhor, Calvino extrai o princípio de que devemos nos preocupar com todos os necessitados. Contudo, sabendo da impossibilidade de conhecermos a todos e de termos recursos para ajudar a todos os que conhecemos, ele diz que a ajuda não exclui a oração nem esta àquela. Portanto devemos orar por todos.

Não conseguimos expressar em tão poucas palavras o que Calvino escreve sobre a vida Cristã. Porém procuramos de forma sucinta, apresentar o que entendemos como indispensável, embora estejamos certos de que muitas outras coisas poderiam ser dito. Porém, aprendemos que, para vivermos o que Calvino propõe nas Institutas sobre “Vida Cristã”, só será possível mediante a graça de Deus e a obediência as Escrituras Sagradas.




* Trabalho apresentado por Zé Francisco na Disciplina “Cosmovião Calvinista aplicada pelo Profº Rev. José Alex – Capelão do STNe, Teresina - Pi.

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