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segunda-feira, 23 de maio de 2011

A DOUTRINA DA IGREJA NA HISTÓRIA

No período patrístico. Pelos chamados pais apostólicos e pelos apologetas a igreja é geralmente apresentada como a communio sanctorum, o povo de Deus que Ele escolheu por possessão. O surgimento de heresias tornou imperativa a enumeração de algumas características pelas quais se conhecesse a verdadeira igreja católica.

2. A DOUTRINA DA IGREJA DURANTE E APÓS A REFORMA.
Os Reformadores romperam com a concepção católica romana da igreja, mas tiveram diferenças entre si nalgumas particularidades. A idéia de uma igreja infalível e hierárquica, e de um sacerdócio especial, que dispensa a salvação por intermédio dos sacramentos, não teve o apoio de Lutero. Ele considerava a igreja como a comunhão espiritual daqueles que crêem em Cristo, e restabeleceu a idéia escriturística do sacerdócio de todos os crentes.
Calvino e os teólogos reformados estavam de acordo com Lutero quanto à confissão de que a igreja é essencialmente uma communio sanctorum, uma comunhão de santos. Todavia, eles não procuravam, como os luteranos, a unidade e a santidade da igreja primariamente nas ordenanças objetivas da igreja, tais como os ofícios, a Palavra e os sacramentos, mas sobretudo na comunhão subjetiva dos crentes.

A Natureza da Igreja
Os católicos romanos definem a igreja como: “A congregação de todos os fiéis que, sendo batizados, professam a mesma fé, participam dos mesmos sacramentos e são governados por seus legítimos pastores, sob um chefe visível na terra”.
Os católicos romanos não admitem que aquilo que se pode denominar “igreja invisível” preceda logicamente à visível. Quer dizer que a igreja é a mater fidelium (mãe dos crentes) antes de ser uma communio fidelium (comunidade de crentes). ... a “igreja interna” antecede à “igreja externa”, a saber, no sentido de que não somos membros vivos desta enquanto não pertencermos àquela.

A Reforma tornou a trazer ao primeiro plano a verdade de que a essência da igreja não se acha na organização externa da igreja, mas nesta como a communio sanctorum. Para Lutero e Calvino, a igreja era simplesmente a comunidade dos santos, isto é, a comunidade dos que crêem e são santificados em Cristo, e que estão ligados a Ele, sendo Ele a sua Cabeça.
A Confissão de Westminster, definindo a igreja do ponto de vista da eleição, diz: “A igreja católica ou universal, que é invisível, consta do numero total dos eleitos que já forma, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, sua cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas”.

A igreja como organismo é o coetus fidelium, a união ou comunhão dos fiéis, unidos pelo vínculo do Espírito, enquanto que a igreja como instituição é a mater fidelium, a mãe dos fiéis; A igreja como organismo tem existência carismática: nela todos os tipos de dons e talentos tornam-se manifestos e são utilizados na obra do Senhor.
A igreja como instituição, por outro lado, existe numa forma institucional e funciona por meio dos ofícios e meios que Deus instituiu.
Calvino define a igreja como a “multidão de pessoas espalhadas pelo mundo, que professam adoração a um só Deus em Cristo;
  
Igreja e Reino
O reino de Deus é primariamente um conceito escatológico. A idéia primordial do reino de Deus na Escritura é a do governo de Deus estabelecido e reconhecido nos corações dos pecadores pela poderosa influência regeneradora do Espírito Santo.
Distinções: A condição de cidadão do Reino e de membro da Igreja invisível é igualmente determinada pela regeneração. Constituem um reino em sua relação com Deus em Cristo como o seu Governador, e uma igreja em sua separação do mundo na devoção a Deus, e em sua união orgânica uns com os outros. Certamente se pode dizer que a igreja visível pertence ao Reino.
Reino é o fim; Igreja é o meio pelo qual o reino é estabelecido; o reino é a presença da Igreja no mundo.

A Igreja no Antigo Testamento
PERÍODO PATRIARCAL. As famílias dos crentes constituíam as congregações religiosas; a igreja era mais bem representada nos lares piedosos, onde os pais serviam de sacerdotes. (Igreja Doméstica)
Não havia culto regular, embora Gn 4.26 pareça implicar uma invocação pública do nome do Senhor. Havia distinção entre os filhos de Deus e os filhos dos homens, estes gradativamente ganhando predominância. Por ocasião do Dilúvio, a igreja foi salva na família de Noé, e continuou particularmente na linhagem de Sem.

PERÍODO MOSAICO. Depois do êxodo, o povo de Israel não só se organizou como nação, mas também se constituiu igreja de Deus... A forma particular assumida por ela era a de um estado eclesiástico... O culto de Deus foi regulamentado nos mínimos pormenores, era grandemente ritual e cerimonial, e estava centralizado num único santuário central.

A Igreja no Novo Testamento
A igreja do Novo Testamento e a da antiga dispensação são essencialmente uma só. No que se refere à sua natureza essencial, ambas consistem de crentes verdadeiros,... o culto ritual do passado deu lugar a um culto mais espiritual, em harmonia com os privilégios do Novo Testamento, que são maiores.

Os Atributos da Igreja.
1. UnidadeOs protestantes asseveram que a unidade da igreja não é primariamente de caráter externo, mas, sim, de caráter interno e espiritual. É a unidade do corpo místico de Jesus Cristo, do qual todos os crentes são membros.
2. Santidade: a igreja é absolutamente santa num sentido objetivo, isto é, como ela é considerada em Jesus Cristo. Em virtude da justificação mediatária de Cristo, a igreja é tida por santa perante Deus.
3. Catolicidade: a igreja invisível é primordialmente a real igreja católica, porque inclui todos os crentes da terra, de toda e qualquer época particular, sem nenhuma exceção;

A Fonte do Poder da Igreja
Jesus Cristo não somente fundou a igreja, mas também a revestiu do necessário poder ou autoridade. Ele é a Cabeça da igreja, não apenas no sentido orgânico, mas também no sentido administrativo, isto é, Ele é não somente a Cabeça do corpo, mas também o Rei da comunidade espiritual.
  
A natureza do Poder da Igreja
PODER ESPIRITUAL. Quando se afirma que o poder da igreja é espiritual, não se quer dizer que é totalmente interno e invisível, desde que Cristo governa tanto o corpo como a alma, Sua Palavra e os sacramentos se dirigem ao homem todo, e o ministério do diaconato tem até referência especial às necessidades físicas. O poder da igreja é exclusivamente espiritual, não recorre à força.
PODER MINISTERIAL.  É um poder muito real e abrangente, que consiste na administração da Palavra e dos sacramentos, Mt 28.19, na determinação do que é e do que não é permitido no reino de Deus, Mt 16.19, no perdão e na retenção do pecado, Jo 20.23, e no exercício da disciplina na igreja, Mt 16.18;

OS MEIOS DE GRAÇA EM GERAL – A Idéia dos Meios de Graça

Ele a qualifica para esta grande tarefa dotando-a de toda sorte de dons espirituais e instituindo os ofícios para a administração da Palavra e dos sacramentos, que são meios pelos quais leva os eleitos ao seu destino eterno. A igreja não é um meio de graça lado a lado com a Palavra e os sacramentos, porque o seu poder de promover a obra da graça de Deus consiste unicamente na administração deles. Ela não é instrumento de comunicação da graça, exceto por meio da Palavra e dos sacramentos. Em si mesmos, eles são completamente ineficientes, e só produzem resultados espirituais positivos mediante a eficaz operação do Espírito Santo.

Conceitos Históricos a Respeito dos Meios de Graça
A igreja de Roma reconhece a si mesmo como um meio até superior aos sacramentos. A própria igreja é considerada como o primordial meio de graça. Nela Cristo continua a Sua vida divino-humana na terra, realiza a Sua obra profética, sacerdotal e real e, por intermédio dela, comunica a plenitude da Sua graça e verdade. O batismo regenera o homem ex opere operato, e a eucaristia, mais importante ainda, eleva a sua vida espiritual a um nível superior. Fora de Cristo, da igreja e do sacramento não há salvação.

CONCEITO LUTERANO. Com a Reforma, a ênfase foi transferida dos sacramentos para a Palavra de Deus. Lutero deu grande proeminência à Palavra de Deus como o primordial meio de graça. Ele assinalava que os sacramentos nada significam sem a Palavra e que, na verdade, eles são apenas a Palavra visível..., E o corpo e o sangue de Cristo estão “nos, com os e sob os” elementos do pão e do vinho, de sorte que quem come e bebe estes últimos, também recebe aqueles, conquanto isto só lhe traga proveito se os receber de maneira apropriada.

CONCEITO REFORMADO (CALVINISTA). As igrejas reformadas (calvinistas) deram continuidade ao conceito originário da Reforma. Elas negam que os meios de graça podem, por si mesmos, conferir graça, como se fossem dotados de poder mágico para produzir santidade. Deus, e Deus somente, é a causa eficiente da salvação..., Deus os designou para serem os meios ordinários por meio dos quais Ele aciona a Sua graça nos corações dos pecadores, e negligenciá-los voluntariamente só pode redundar em prejuízo espiritual.

As Duas Partes da Palavra de Deus Considerada Como Meio de Graça.

A LEI E O EVANGELHO NA PALAVRA DE DEUS. Desde o princípio, as igrejas da Reforma distinguiam entre a Lei e o Evangelho como as duas partes da Palavra de Deus como meio de graça... A Lei compreende tudo quanto, na Escritura, é revelação da vontade de Deus na forma de mandado ou proibição, enquanto que o Evangelho abrange tudo, seja no Velho Testamento seja no Novo, que se relaciona com a obra de reconciliação e que proclama o anelante amor redentor de Deus em Cristo Jesus. E cada parte destas tem sua função própria na economia da graça. A Lei procura despertar no coração do homem contrição pelo pecado, ao passo que o Evangelho visa ao despertamento da fé salvadora em Jesus Cristo. Num sentido, a obra da Lei é preparatória para a do Evangelho.

O Tríplice Uso da Lei
Um uso político ou civil. A lei atende ao propósito de restringir o pecado e promover a justiça. Ela atende ao propósito da graça comum de Deus no mundo em geral. Isto não significa que, conforme este ponto de vista, ela não pode ser considerada um meio de graça, no
sentido técnico da palavra.

Um uso elêntico ou pedagógico. Nesta capacidade, a Lei atende ao propósito de colocar o homem sob convicção de pecado e de fazê-lo cônscio da sua incapacidade para satisfazer as exigências da Lei. Desse modo, a Lei vem a ser o seu preceptor para conduzi-lo a Cristo e, assim, é subserviente ao misericordioso propósito divino de redenção.

Um uso didático ou normativo. Este é chamado tertius usus legis, o terceiro uso da Lei. A Lei é norma de vida para os crentes, lembrando-lhes os seus deveres e guiando-os no caminho da vida e da salvação. Os antinômios rejeitam este terceiro uso da lei.

Os Sacramentos em Geral
Definição de sacramento: Sacramento é uma santa ordenança instituída por Cristo, na qual, mediante sinais perceptíveis, a graça de Deus em Cristo e os benefícios da aliança da graça são representados, selados e aplicados aos crentes, e estes, por sua vez, expressam sua fé e sua fidelidade a Deus.
O SINAL EXTERNO OU VISÍVEL. O objeto externo do sacramento inclui, não somente os elementos que se usam, a saber, água, pão e vinho, mas também o rito sagrado, aquilo que se faz com estes elementos. A Bíblia denomina os sacramentos sinais e selos, Gn 9.12, 13; 17.11; Rm 4.11.
A GRAÇA ESPIRITUAL INTERNA, SIGNIFICADA E SELADA. Os sacramentos não significam meramente uma verdade geral, mas uma promessa dada a nós e por nós aceita, e servem para fortalecer a nossa fé com respeito à realização dessa promessa, Gn 17.1-14; Ex 12.13; Rm 4.11-13. Eles representam visivelmente e aprofundam a nossa consciência das bênçãos espirituais da aliança, da purificação dos nossos pecados e da nossa participação na vida que há em Cristo, Mt 13.11; Mc 1.4, 5; 1 Co 10.2, 3, 16, 17; Rm 2.28, 29; 6.3, 4; Gl 3.27. Como sinais e selos, eles são meios de graça, isto é, meios pelos quais se fortalece a graça interna produzida no coração pelo Espírito Santo.
UNIÃO SACRAMENTAL ENTRE O SINAL E QUILO QUE É SIGNIFICADO. Segundo o conceito reformado (calvinista), esta (a) não é física, como pretendem os católicos romanos, (b) nem local, como a descrevem os luteranos, (c), mas espiritual, ou como o expressa Turretino, moral e relativa, de modo que, quando o sacramento é recebido com fé, a graça de Deus o acompanha. Conforme este conceito, o sinal externo torna-se um meio empregado pelo Espírito Santo na comunicação da graça divina.

Necessidade dos Sacramentos. Os católicos romanos afirmam que o batismo é absolutamente necessário para todos, para a Salvação; Já os protestantes ensinam que os sacramentos não são absolutamente necessários para a salvação, mas são obrigatórios em vista do preceito divino.

Os Sacramentos do Velho e do Novo Testamentos Comparados.

SUA UNIDADE ESSENCIAL: Não há diferença entre os sacramentos do Velho Testamento e os do Novo. Em vista do fato de que eles representam as mesmas realidades espirituais, os nomes dos sacramentos de ambas as dispensações são utilizados uns pelos outros: a circuncisão e a páscoa são atribuídas à igreja do Novo Testamento, 1 Co 5.7; Cl 2.11, e o batismo e a Ceia do Senhor à igreja do Velho Testamento, 1 Co 10.1-4.

SUAS DIFERENÇAS FORMAIS. Não obstante a unidade essencial dos sacramentos das duas dispensações, há certos pontos de diferença. (a) Em Israel os sacramentos tinham um aspecto nacional em acréscimo à sua significação espiritual como sinais e selos da aliança grega. (b) Ao lado dos sacramentos, Israel tinha muitos outros ritos simbólicos, tais como as ofertas e as purificações, que no essencial concordavam com os seus sacramentos, ao passo que os sacramentos do Novo Testamento estão absolutamente sós. (c) Os sacramentos do Velho Testamento apontavam para Cristo no futuro, e eram os selos da graça que ainda teriam que ser merecidas, ao passo que os do Novo testamento apontam para Cristo no passado e o Seu sacrifício de redenção já consumado. (d) Em harmonia com o conteúdo total da dispensação do Velho Testamento, a porção da graça divina que acompanhava o uso dos sacramentos do Velho Testamento era menor do que a que atualmente se obtém mediante o confiante recebimento dos sacramentos do Novo Testamento.

Resumo extraído da Teologia Sistemática - Louis Berkhof - 2007 - Publicado pela editora Cultura Cristã

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