1. A SANTIDADE DE DEUS. A santidade de Deus é, em primeiro lugar, aquela perfeição
divina pela qual ele é absolutamente distinto de todas as suas criaturas, bem como
exaltado acima delas em majestade infinita. Esse é o significado em Êxodo 15.11; 1Samuel 2.2; Isaías 57.15; Oseias 11.9. Temos em mente aqui, porém, mais particularmente a
santidade ética de Deus, que consiste em sua separação do mal moral, isto é, do pecado. Conquanto
a ideia fundamental dessa santidade seja a de separação, indica também algo positivo, a saber, a excelência
moral ou a perfeição ética de Deus. Em sua presença, o homem sente-se oprimido com a consciência do
pecado (Jó 34.10; Hc 1.13; Is 6.5).
Pode
ser definida como aquela perfeição de Deus em virtude da qual ele eternamente determina e mantém sua própria excelência moral, aborrece o pecado e exige pureza de suas criaturas morais.
2. A RETIDÃO DE DEUS. Esse atributo de Deus está intimamente relacionado com o anterior. É aquela perfeição de Deus pela qual ele se mantém contra toda violação de sua santidade, e mostra em todos os aspectos que ele é o santo. Dela devem ser distinguidos diferentes
aspectos:
a) Justiça
regencial. É a retidão que Deus manifesta como
soberano tanto dos bons como dos ímpios. Em decorrência dessa justiça, ele
instituiu um governo moral no mundo, e impõe ao homem uma lei justa, com
promessas de recompensa para o obediente e ameaças
de castigo para o desobediente (Sl 99.4; Is 33.22; Rm 1.32).
b)
Justiça remunerativa. Essa justiça manifesta-se na
distribuição de recompensas tanto aos homens como aos anjos (Dt 7.9,12-13; Sl 58.11;
Mq 7.20; Rm 2.7; Hb 11.26). É realmente uma expressão do amor divino,
distribuindo suas bondades, não estritamente com base no mérito, mas de acordo
com a promessas e entendimento (Lc 17.10; 1Co 4.7)
c) Justiça retributiva. Essa justiça relaciona-se com a aplicação de penalidades, e é
uma expressão da ira divina. Num mundo
sem pecado não haveria lugar para o seu exercício, mas num mundo cheio de pecado, ela tem necessariamente um lugar muito
proeminente. Enquanto a Bíblia acentua
a recompensa dos retos mais do que o castigo dos ímpios, mesmo esse último é
distintamente realçado na Escritura (Rm 1.32; 2.9; 12.19; 2Ts 1.8).
3. A VERACIDADE DE DEUS. A veracidade de Deus pode ser descrita como aquela perfeição em virtude da qual ele é verdadeiro em seu ser íntimo, em sua revelação e em sua relação com o seu povo. Implica
que ele é o Deus verdadeiro em contraste com os ídolos que são mentira e vaidade; que ele conhece as coisas como realmente
são e também habilita o homem a conhecer a realidade das coisas; que cumpre
fielmente todas as suas promessas pactuais. Esse último aspecto da veracidade
de Deus é usualmente chamado fidelidade. É a
base da confiança de seu povo, o fundamento de sua esperança e a causa do seu regozijo (Nm 23.19; 1Co 1.9; 2Tm 2.13; Hb 6.17; 10.23).
4.
A SOBERANIA DE DEUS. Sob este tópico
geral consideramos a vontade soberana de Deus, ou sua soberania em planejar e
dirigir os negócios do mundo e de suas criaturas racionais; e o poder soberano
de Deus, sua onipotência, ou a soberania de Deus em executar a sua vontade.
a) A vontade soberana de Deus. A vontade soberana de
Deus se apresenta na Escritura como a causa final de todas as coisas: da
criação e da preservação (Ap 4.11), do governo (Pv 21.1; Dn 4.35; Ef 1.11), dos
sofrimentos de Cristo (Lc 22.42; At 2.23), da eleição e reprovação (Rm
9.15-16), da regeneração (Tg 1.18), da santificação (Fp 2.13), dos sofrimentos
dos crentes (1Pe 3.17), da vida e do destino do homem (At 18.21; Rm 15.32; Tg
4.15), e até das menores coisas da vida (Mt 10.29).
1)
A vontade secreta e a vontade revelada
de Deus. Várias distinções se aplicam à vontade de
Deus, das quais a mais comum é aquela entre a sua vontade secreta e a vontade
revelada. A primeira é a vontade dos decretos, que está em grande parte oculta em
Deus, enquanto a última é a vontade de seus preceitos, que se revela nu lei e
no evangelho. Essa distinção baseia-se em Deuteronômio 29.29. A vontade secreta
de Deus é mencionada em Salmos 115.3; Daniel 4.7; Romanos 9.18-19; 11.33-34;
Efésios 1.5,9,11; e sua vontade revelada em Mateus 7.21; 12.50; João 4.34;
7.17; Romanos 12.2. A primeira pertence a todas as coisas que Deus determina
efetuar ou permitir, por isso são absolutamente certas. A última faz referência
aos deveres que Deus prescreve ao homem; representa a maneira pela qual o homem
pode gozar a bênção divina, e é frequentemente frustrado.
2)
A liberdade da vontade de
Deus. Há
certas coisas que Deus necessariamente determina. Ele não pode deixar de amar a
si mesmo e deleitar-se com a
contemplação de suas próprias perfeições. E não está, todavia, sob nenhuma
compulsão mesmo nisso, mas age de acordo com a lei do seu ser íntimo.
Nenhuma dessas
necessidades caracteriza a vontade de Deus com referência às suas criaturas.
Deus escolhe voluntariamente o que e quem ele criará, e os tempos, os lugares e
as circunstâncias de suas vidas. Ele marca os caminhos de todas as suas
criaturas racionais, determina-lhes seu destino, e as usa para o seu propósito.
E embora ele as dote de liberdade, sua vontade, controla-lhes as ações. A
Bíblia fala da liberdade da vontade de Deus nos termos mais absolutos (Jó 11.10; 33.13; SI 115.3; Pv 21.1; Is 10.15; Mt 20.15; Rm 9.15-18; Ap 4.11).
3) A vontade de Deus com
relação ao pecado. Surgem sérios problemas sobre a relação da vontade de Deus com o pecado.
Se Deus planejou todas as coisas, então planejou também a entrada do pecado no
mundo. Isso não o torna o autor do pecado? Deve-se ter em mente, contudo, que
Deus não decide, ele mesmo, efetuar o pecado, nem procura eficazmente sua
comissão. Ele decretou permitir que suas criaturas racionais pecassem, tornando
certa, com isso, a entrada do pecado no mundo, sem ele mesmo tornar-se o seu
autor. Essa explicação da questão não resolve o problema inteiramente, mas
salvaguarda a ideia da pureza moral de Deus. Outro problema origina-se da
relação mútua entre a vontade secreta e a revelada. Às vezes, é dito serem
contraditórias. Sua vontade secreta compreende muitas coisas que ele proíbe, e
exclui muitas coisas que ele ordena em sua vontade revelada (Gn 22; Êx 4.21-23;
2Rs 20.1-7). Deus decretou que os judeus deviam crucificar Jesus; todavia, ao
fazer isso, contrariaram a vontade revelada de Deus (At 2.23). Deve-se ter em
mente, contudo, que ao fazer a distinção em pauta estamos usando a palavra
"vontade" em dois sentidos diferentes. Por sua vontade secreta, Deus
determinou o que ele fará ou o que acontecerá; por outro lado, em sua vontade
revelada, ele nos revela o que devemos fazer. Além disso, a situação não é tal
que de acordo com sua vontade secreta ele se deleita com o pecado, e de acordo
com sua vontade revelada ele não se deleita com o pecado. O fato de ele ter
decretado que o pecado entraria no mundo não dá a entender que ele tenha prazer
nele.
b)
O poder soberano ou a onipotência de Deus. A soberania de Deus também
encontra expressão no poder divino ou onipotência, o poder para executar sua
vontade. A onipotência de Deus não deve ser entendida como afirmando que Deus
pode fazer tudo. A Bíblia nos ensina que há muitas coisas que' Deus não pode fazer. Ele não pode mentir,
pecar, transformar-se e nem negar a si mesmo (Nm 23.19; 1Sm 15.29; 2Tm 2.13; Hb
6.18; Tg 1.13,17). Os escolásticos erraram
quando ensinaram que ele podia fazer toda espécie de coisas que são
inerentemente contraditórias e podia até mesmo aniquilar-se. É mais correto dizer que, em virtude de sua onipotência,
Deus pode, pelo mero exercício de sua vontade, realizar tudo que ele decidiu levar a cabo. E se ele
assim desejasse, ele poderia fazer mais do que realmente faz acontecer (Gn
18.14; Jr 32.27; Zc 8.6; Mt 3.9;
26.53). A onipotência de Deus encontra expressão no nome El-Shaddai, e é claramente mencionada em
diversas passagens da Escritura (Jó 9.l2; SI 115.3; Jr 32.l7; Mt 19.26; Lc 1.37; Rm 1.20; Ef 1.19).
PERGUNTAS PARA
RECAPITULAÇÃO
- Como se dividem os atributos de
Deus?
- Quais deles pertencem a cada uma dessas
classes?
- O que é a independência de Deus? E sua
imutabilidade?
- Corno se pode explicar que a Bíblia
aparentemente atribui mudança a Deus?
- O que é a eternidade e a imensidade
de Deus?
- Como se pode provar a simplicidade
de Deus?
- Qual a natureza e a extensão do
conhecimento de Deus?
- Como a sua sabedoria se relaciona
com o seu conhecimento?
- O que é a bondade de Deus, que
outros nomes são usados para ela?
- Deve-se dizer que o amor é o
atributo central de Deus?
- Como se distinguem a graça, a
misericórdia e a longanimidade de Deus?
- O que é a santidade de Deus?
- Quais os vários aspectos da retidão
de Deus?
- O que está incluído na veracidade
de Deus?
- Que distinção se aplica à vontade
de Deus?
- Sua vontade é livre, ou necessária?
- O decreto de Deus o toma o autor do
pecado?
- A
vontade secreta de Deus e a revelada estão em conflito?
Do Livro: Manual de Doutrina Cristã, Louis Berkhof - Ed. Cultura Cristã.
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