Charles W. Koller apresenta o conceito bíblico de pregação como (aquele processo único pelo qual Deus, mediante Seu mensageiro escolhido, Se introduz na família humana e coloca pessoas perante Si, face a face). C. W. Koller, op. cit., p. 9.
Em sua tese, Koller refere-se ao mensageiro (vocação, caráter, função) e à mensagem (conteúdo, poder, objetivo). Na realidade, porém, as características da homilética evangélica não devem restringir-se somente aos pólos mensageiro - mensagem. Três elementos, no mínimo, participam da prédica: o pregador, o(s) ouvinte(s) e Deus. Podemos representá-los por meio de um triângulo, cujos vértices simbolizam o autor, o comunicador e o receptor:
DEUS
PREGADOR OUVINTE/COMUNIDADE
Neste triângulo, o pregador dirige-se a Deus, na preparação e na proclamação da mensagem, e ao ouvinte, sua comunidade evangélica.
O ouvinte recebe a mensagem da Palavra de Deus através da comunicação pelo pregador ou por sua própria leitura.
Deus, por Sua vez, é autor, inspirador e ouvinte da Sua Palavra. Entretanto, é bom lembrar que o triângulo só se completa com um núcleo: este âmago é a palavra do Cristo crucificado (1 Co 2.2). O triângulo, então, deve ser aperfeiçoado da seguinte forma:
DEUS
CRISTO
Para os evangélicos, Cristo é o centro da Bíblia. Lutero ensinou enfaticamente: (A Escritura deve ser entendida a favor de Cristo, não contra Ele; sim, se não se refe-re a Ele não é verdadeira Escritura ... Tire-se Cristo da Bíblia, e que mais se encon-trará nela?) B. Hagglund, História da Teologia (P. Alegre: Concórdia, 1981), p. 187.
Com a Palavra de Deus, é-nos dado o conteúdo da pregação. Pregamos esta Palavra, e não meras palavras humanas. Na comunicação da Palavra de Deus, lembramo-nos de que nossa pregação deve consistir nessa mesma Palavra: "Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus..." (1 Pe 4.11).
Este falar não é o nosso falar, sendo antes um dom de Deus, um charisma. No po-der de Deus, nosso falar torna-se o falar de Deus: "... tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homem, e, sim, como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes" (1 Ts 2.13; cf. 1 Co 2.4s.; 2 Co 5.20; Ef 1.13).
Concluímos, pois, que o conteúdo da homilética evangélica é a Palavra de Deus. Com ela, é-nos confiado um "tesouro em vasos de barro" (2 Co 4.7). É a responsa-bilidade dos "ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus" (1 Co 4.1), que anunciam "todo o desígnio de Deus" (At 20.27). O conteúdo da pregação apostólica testifica a plenitude do testemunho bíblico. Isto se torna evidente ao analisarmos os sermões de Pedro e de Paulo, no livro de Atos (mensagens de Pe-dro: At 2.14-40; 3.12-26; 4.8-12; 5.29-33; 10.34-43; mensagens de Paulo: At 13.16-41; 14.15-17; 17.22-31; 20.18-35; 22.1-21; 24.10-21; 26.1-23; 26.25-29). Nestes sermões, encontramos um testemunho de seis faces que, com palavras diferentes, repete-se:
1. O testemunho da perdição do homem (o pecado e seu julgamento);
2. O testemunho da história da salvação efetivada por Deus em Jesus Cristo (Sua humilhação, encarnação, sofrimento, morte, ressurreição, exaltação e segunda vinda);
3. O testemunho das Escrituras e da própria experiência;
4. O testemunho da necessidade imperativa de arrependimento e dedicação da vida a Jesus Cristo (confissão dos pecados, fé salvadora, vida santificada);
5. O testemunho do julgamento sobre a incredulidade; e
6. O testemunho das promessas para os fiéis.
As mensagens apostólicas dirigem-se ao homem integral e convidam-no a uma entrega absoluta a Cristo (consciência, razão, sentimento e vontade).
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