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segunda-feira, 25 de abril de 2011

A EXEGESE DO TEXTO DO SERMÃO

O árduo trabalho de preparação da mensagem bíblica começa com a transparência do texto escolhido. O processo que gera essa transparência chama-se exegese.

Exegese é um termo técnico teológico empregado para definir o trabalho de exposição de um texto bíblico. A palavra exegese deriva do substantivo grego exegesis, que significa declaração, narrativa, exposição, explicação, interpretação. Para os gregos, os exegetai eram os intérpretes e expositores oficiais da lei sagrada. Platão, Leis, 759 c, e, 755 a. O termo exegese firmou-se mundialmente a partir do século XIX, indicando a atividade teológica de expor um texto da Bíblia.
O texto bíblico apresenta-se numa língua estrangeira (hebraico, aramaico ou grego) e inserido numa cultura, história e contexto social totalmente diferentes da realidade brasileira.
A fim de expormos com objetividade, temos de interpretar o texto no horizonte de seu autor, com seu contexto e sua cultura, para depois aplicá-lo ao horizonte do ouvinte do século XX. Todos os textos bíblicos têm suas características específicas, dadas por Deus. É evidente que as expressões paulinas predominantes não são as mesmas usadas por Pedro, João ou Tiago, que a literatura poética é diferente da profética e que o texto de Gênesis difere daquele de Samuel, embora ambos os livros façam parte dos registros históricos. Devemos reconhecer e descobrir as características específicas de qualquer texto bíblico, vencer a estranheza (barreira cultural) e descobrir o cerne do texto, superando nossos preconceitos e suposições individuais a fim de expô-lo de maneira fiel e objetiva, conforme as necessidades de nossas igrejas.
A mensagem bíblica encontra-se no texto bíblico em si, não em nós. Somos apenas portadores da mensagem divina presente na Bíblia. Por isso, temos de bombardear o texto bíblico com perguntas, analisá-lo, expô-lo e interpretá-lo, se quisermos comunicá-lo.
Tomemos como exemplo a Parábola do Semeador, em Mateus 13. Por que o semeador semeia à beira do caminho e em solo rochoso? Será que o semeador é negligente ou mal treinado nas técnicas agrícolas? Quanto à Parábola das Dez Virgens, em Mateus 25, podemos perguntar: quais são as tarefas das virgens? Por que algumas têm óleo e outras não? Atos 8 relata a história do encontro de Filipe com o eunuco. Onde fica a Etiópia? Quem é o eunuco? Por que ele era eunuco? Por que viajou para Jerusalém? Qual a distância entre a Etiópia e Jerusalém? Lemos em Lucas 2 que os pais de Jesus puseram-no numa manjedoura. O que é uma manjedoura? Por que os pais não usaram uma rede ou uma esteira?


A necessidade da exegese ilustrada

                                                                  
                                                                     DEUS



                                               Inspiração                       Iluminação





                               Autor                           Grego                                  Leitor                      



horizonte bíblico

horizonte atual
a. C. – primeiro século
A. D. cultura, costumes e língua do autor bíblico

do leitor bíblico do século XX, com sua cultura, seus costumes e sua língua


Assim, a nossa pregação torna-se bíblica quando nos submetemos à autoridade do texto, ouvimos e obedecemos a seus princípios e ordens, analisamos criteriosamente suas palavras, seus costumes e seus personagens, interrogamos seu contexto histórico, cultural e bíblico, esclarecemos as dúvidas que surgem na primeira leitura e apropriamo-nos de seu conteúdo pela fé.
O ponto de partida da exegese é o texto. Seu alvo é uma exposição bíblica compreensível para os ouvintes. A finalidade da exegese é dispor os elementos a serem expostos de maneira clara, lógica, seqüencial, progressiva e estética, de sorte a formar um conjunto convincente. PMS, p. 41. O alvo da exegese é duplo: compreensão por parte do pregador e compreensão por parte do ouvinte.

BÍBLIA ------------------» PREGADOR --------------------» OUVINTES

Na pregação do evangelho, expomos a idéia principal, o cerne de um texto bíblico. É praticamente impossível apresentar cientificamente todos os pormenores e detalhes de um texto bíblico. Não podemos sobrecarregar nossos ouvintes nem fazer da mensagem bíblica um discurso puramente acadêmico. O importante é limitar-se ao significativo e essencial num texto bíblico. A exegese científica é um trabalho indicado para os comentários, para os cursos de mestrado e para os professores de seminários evangélicos. A exegese do pregador é uma tarefa limitada ao essencial do texto, à compreensão popular da igreja e objetiva uma mensagem de aproximadamente 30 minutos. Nessa exegese limitada, é legítimo pesquisar os termos principais com mais atenção, deixando de lado expressões secundárias.
Contudo, uma simples exposição mecânica ou técnica do texto bíblico não produz automaticamente os resultados desejados pela congregação. É preciso fazer a exegese sob a orientação divina, num espírito de submissão, obediência e oração. A exegese bíblica é uma atividade espiritual que exercemos na presença de nosso Senhor Jesus Cristo.
Então, como fazer a exegese de um texto bíblico? Os dez passos didáticos expostos a seguir o ajudarão a exercer e desenvolver a arte da exegese bíblica:

1. Leia o texto em voz alta e em espírito de oração várias vezes (o grande pregador Dr. Campbell Morgan costumava ler pelo menos 50 vezes a passagem que ia expor), comparando-o com versões bíblicas diferentes para obter uma maior compreensão de seu conteúdo.
2. Reproduza o texto com suas próprias palavras, sem olhar na Bíblia, para verificar se realmente entendeu o conteúdo (Bezzel memorizava todos os textos sobre os quais pregava).
3. Observe o contexto imediato e o remoto (veja pp. 38ss.).
4. Verifique a forma literária do texto (história, milagre, parábola, ensino, advertência, promessa, profecia, testemunho, oração, introdução etc.) e tente estruturá-lo (e. g., Ef 1.1-2; 15-23; Lc 4.38-39).
5. Determine o significado exato de cada palavra básica, com sua origem e seu uso pelo autor e no restante do testemunho bíblico (e. g., Rm 3.21-31; 5.1).
6. Anote peculiaridades do texto (palavras que se repetem, contrastes, seqüências, conclusões, perguntas, teses) e faça uma comparação sinótica, caso o texto pertença aos evangelhos (veja pp. 35-36).
7. Pesquise as circunstâncias históricas e culturais (época, país, povo, costumes, tradição; e. g., Ap 19.15).
8. Elabore as mensagens de cada versículo ou termo principal por meio de versículos paralelos (em palavras e assuntos), de seu núcleo, de sua relação com a história da salvação, de perguntas didáticas (quem, o que, por que etc.) e de comentários bíblicos, léxicos, dicionários e manuais bíblicos (e. g., Mt 12.38-42).
9. Estruture o texto conforme seu conteúdo principal e organizador e suas seções secundárias (e. g., Lc 19.1-10).
10. Resuma o trabalho exegético feito até este ponto com a frase: O assunto mais importante deste texto é...

Você deve memorizar estes dez passos didáticos e aplicá-los na preparação de qualquer estudo bíblico ou mensagem da Palavra de Deus. Você não pode dispensar-se dessas etapas. Sua negligência seria como a de um mecânico ignorante que conserta um carro sem usar suas ferramentas!

Exemplo 1: Mateus 9.9-13
1. Após ter lido o texto várias vezes e comparado suas palavras com versões bíblicas diferentes, resuma a impressão geral do trecho.
2. Qual o contexto dessa passagem?
            a. contexto imediato de Mateus 9
            b. contexto do evangelho de Mateus (os capítulos anteriores e posteriores)
            c. contexto remoto do livro inteiro (a estrutura do evangelho de Mateus)
3. Como esse texto poderia ser estruturado?
4. Faça uma comparação textual com várias versões bíblicas, anotando as diferenças.
5. Faça uma comparação sinótica desse texto para descobrir a cronologia dos acontecimentos, o material peculiar e os trechos omissos de cada um dos evangelistas.
a. o material peculiar de Mateus
b. o de Marcos
c. o de Lucas
d. o material omisso de Mateus
e. o de Marcos
f. o de Lucas
g. a cronologia sinótica
h. resumo em uma só versão
6. Explique os costumes alfandegários romanos.
7. Qual era a relação entre judeus em geral e os publicanos e pecadores?
8. Qual era a atitude de João Batista frente aos publicanos e pecadores?
9. Como Jesus Se relacionava com os publicanos e os pecadores?
10. Quem eram os fariseus (origem, atitudes, crenças, posição)?
11. Por que os fariseus opuseram-se a Jesus (v. 11)?
12. Fale sobre Cafarnaum (lugar, origem, significado, tamanho, importância).
13. Quem era Mateus (ou Levi; ligações familiares, profissão, religião, características, menção nos evangelhos)?
14. No versículo 9, qual o significado do verbo ver, empregado por Jesus, em relação à vocação de Mateus? Será que os autores dos demais evangelhos usam esse verbo em outras circunstâncias?
15. Quais as conseqüências implícitas do ato de seguir a Jesus?
 a. conforme Lc 5.28
 b. conforme Mt 19.21
 c. conforme Lc 19.1-10
16. Segundo os versículos 10 e 11, quais os motivos de Mateus ao convidar Jesus à sua própria casa?
17. Por que os judeus consideravam os publicanos e pecadores indivíduos de segunda classe?
18. O que significa a frase: ... come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?
19. Como Jesus descreve Sua missão nos versículos 12 e 13, e qual seu significado?
20. Por que Jesus citou Oséias 6.6?
21. Quais as diferenças entre Oséias 6.6 e sua citação feita por Jesus?
22. Em que e por que revela-se na ação de Jesus a misericórdia divina?
23. Quais as implicações do fato de chamar os pecadores?
24. Será que os fortes e justos não precisam da misericórdia divina? (Consulte alguns comentários.)
25. Qual a origem, o significado e o uso do termo bíblico misericórdia? (Consulte o NDB, o NDITNT e o NTI.) (Ferramentas de estudos)

Um comentário:

  1. Achei bem interessante, mas gostria de ver as implicações da exegese, não só na pregação, mas no aconselhamento, na liturgia, nas atividades gerias da igreja. Seria muito interessante vê-lo escerever sobre isso. Bom trabalho!

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