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quinta-feira, 29 de março de 2012

QUESTOES FUNDAMENTAIS DA ÉTICA CRISTÃ

A.     PRELIMINARES DA ÉTICA CRISTÃ


Na ética cristã, fazemos distinções entre duas categorias de exigências, ou dois tipos de obrigações éticas ou morais: por um lado falamos das exigências e deveres de todos os homens, independentemente de suas crenças e convicções particulares. Por outro lado, referimo-nos às obrigações dos cristãos. A seguir propomos as diferenças das duas categorias:
1.      Duas categorias de exigências ou tipos de obrigações éticas ou morais:
1ª. Exigências de todos os homens, independentemente de suas crenças e convicções particulares, que não tem nada a ver com a cultura, status social, educação ou qualquer religião ou ideologia.
2ª. Obrigações dos cristãos, que são específicas para com as pessoas que vivem no senhorio de Cristo e passaram pela experiência transformadora da salvação.

DIFERENÇA:
É justo exigir de todos os homens, em qualquer cultura, adeptos de diferentes conceitos religiosos e ideológicos, que não furtem. Essa é uma exigência geral, valida para todas as épocas, qualquer que seja a crença ou o nível cultural. Por outro lado, seria absurdo exigir de uma pessoa não-regenerada uma vida de oração, santificação e evangelização pessoal, pois são exigências cristãs especificas.

B. DEFINIÇÕES BÁSICAS DE ÉTICA
A palavra ethos aparece 12 vezes no NT (Lc 1.9; 2.42; 22.39; Jo 19.40; At 6.14; 15.1; 16.21; 21;21; 25.16;26.3; 28.17; Hb 10.25) e significa estilo de vida, conduta, costumes ou prática. O plural, ёthё, aparece apenas em 1Coríntios 15.33, quando se diz que “as más conversações corrompem os bons costumes”.
A ética cristã recebeu diversos nomes ao longo da história:
Sittenlehre      ciência dos costumes – desde Mosheim, Wutke Schmid e principalmente Schlrimacher;
Moral               moral – especialmente Kant. Os teólogos católicos romanos geralmente usam a expressão “teologia moral”, e,
Ethik         ética – derivado diretamente do texto bíblico e usado desde Hegel, Rothe, Harlesss e Martensen.
A ÉTICA DOS DEZ MANDAMENTOS
O uso do termo “ética” foi se generalizando, sendo mundialmente aceito, pelo menos entre os teólogos evangélicos do século XX. Em si, porém, a palavra “ética” não define o tipo de ética em questão. É bom distinguir as tendências gerais da ética secular ou filosófica da ética, pois embora a ética em si sempre se preocupe com assuntos morais, a metodologia da ética secular e a da ética cristã são quase opostas.
1. Ética secular (ou ética filosófica)
É a ciência dos costumes ou hábitos. Busca a verdade e o bem pela razão, conforme os conceitos predominantes da época. Ex. costume ou hábito de beber, modos da mesa, tradições de casamentos e funerais, festas religiosas e culturais, a moda e a moral trabalhista, politica, civil e econômica. É ensinada nos cursos de filosofia nas grandes universidades.
2. Ética cristã
 Esta não é uma mera ciência de costumes e hábitos, não buscando a verdade e o bem primariamente pela razão. Ela não exclui a razão, mas a leva cativa à obediência de Cristo (2Co 10.5). É essencialmente normativa, enquanto a secular é mais descritiva. Vai muito além dos costumes, comportamentos ou atitudes, pois tem a ver com o bem e o mal, revelados nas Sagradas Escrituras, e isso em termos absolutos. Portanto, a ética cristã é o estudo sistemático da moralidade (a qualidade moral) e não o estudo de costumes. Por isso, ela procura a verdade e o bem através do supremo bem e da vontade de Deus revelada na Bíblia.
A ética cristã é também o ensino, mandamento, diretriz, norma, enquanto os costumes são variáveis, flexíveis, descritivos e dependem da situação.
Ética Secular                                                        Ética Cristã
Ciência de costumes e hábitos                          Revelação da vontade divina
Descritiva                                                        Normativa
Relativa                                                           Absoluta
Imanente                                                         Transcendente
Situacionista                                                     Direcionista
Subjetiva                                                          Objetiva
Mutável                                                            Imutável

3.      A moral
O termo moral vem do latim moralis (relativo aos costumes), sendo a parte da filosofia que trata dos atos humanos, dos bons costumes e dos deveres dos homens. Desta maneira, temos a moral trabalhista, a moral sexual, a moral nos negócios, a moral da aprendizagem, a moral política etc. a moral observa o que o homem faz, enquanto a ética cristã pergunta por que o homem faz.
4.      Definição de ética cristã
“Ciência que trata das origens, princípios e práticas do que é certo e do que é errado à luz das Sagradas Escrituras em adição à luz da razão da natureza” (J. S. Keyser).
“Estudo sistemático do modo de viver exemplificado e ensinado por Jesus, aplicado aos múltiplos problemas e decisões da existência humana” (Georgia Harkness).
“Explanação sistemática do exemplo e ensino moral de Jesus aplicado à vida total do indivíduo na sociedade e realizados com o auxílio do Espírito santo” (H. H. Barnette).
Ética cristã é  estudo sistemático e prático da viva moral do homem determinado por seu valor e sua norma cristã, como revelado nas Sagradas Escrituras.
Assim, definimos nossa reflexão ética como uma posição absolutista. Isto significa que cremos nos absolutos morais revelados na Bíblia. Nela buscamos auxílio, diretrizes e orientação para nossas decisões, sejam elas morais ou práticas.

5.       A tarefa da ética cristã
A ética cristã procura discutir e definir questões fundamentais como:
Qual o verdadeiro significado e propósito da vida humana?
Quem é o homem?
Qual é a natureza do homem?
Como deve ser o homem?
O que é verdade, justiça e retidão?
O que é moralmente certo e errado?
O que é uma vida correta?
Como devem ser os relacionamentos interpessoais do homem?
Qual a posição do homem para com o Criador e para com o seu Salvador, Jesus Cristo?
Quais as implicações do senso de dever, de obrigação moral do homem para com Deus e o seu próximo?

É evidente que o homem é um ser racional (possui intelecto) e um ser moral (tem consciência). Como ser moral, o homem sabe não só como as coisas são, mas também como elas deveriam ser. Por isso, é somente o homem quem pode refletir, esforçar-se, ter ideia e procurar alcançar seus ideais. Ele também possui intuição do supremo bem e conhece a diferença entre o bem e o mal. Toda ética ocupa-se desse aspecto da experiência humana, isto é, o aspecto moral. Contudo, a tarefa da ética é encontrar um critério objetivo para determinar qual é o bem com o qual o homem, como ser moral, deve se conformar. Isso não significa que a ética cristã ocupa-se apenas com a tomada de decisões: “Sua tarefa e sua finalidade básicas consistem em conseguir uma visão correta, em abrir as principais perspectivas e em apresentar as verdades e valores que possam influir sobre decisões a serem assumida diante de Deus”.

Como disciplina teológica
Ética cristã é o ensino sistemático da conduta e atitude em relação à vida para a qual Jesus Cristo nos chamou e fez nascer de novo. Por isso, ele se preocupa com a vontade de Deus realizada em nossa vida. Em ultima analise, portanto, ética cristã é teologia, isto é: ensino de Deus, de sua vontade e de sua Ação. Pelo fato de a ética tentar descobrir as normas divinas para a conduta humana, ela se preocupa mais com a antropologia, enquanto a teologia sistemática interessa-se mais pela teologia. A ética cristã assemelha-se muito com a antropologia, à sociologia e à filosofia; em sua essência, porém, é diferente, pois não é descritiva, mas normativa, uma vez que parte da suprema revelação para definir valores e princípios que emanam de Deus... Quando separamos totalmente a ética cristã da teologia sistemática, corremos o sério risco de reduzi-la a uma mera reflexão antropológica e social. A redução da ética cristã a uma moral natural não é apenas fruto do sistema aristotélico, mas também da decadência teológica pós-reforma.
Do Livro “A ÉTICA DOS DEZ MANDAMENTOS” Um modelo da ética para os nossos dias, De Hans Ulrich Reifler – Vida Nova.