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segunda-feira, 28 de junho de 2010

A OBRA DA REDENÇÃO – SOTERIOLOGIA & Ordo Salutis

Resumo de aula de Teologia Sistemática no Seminário Teológico do Nordeste- Teresina, Pi.

(1) PACTO DAS OBRAS = O primeiro Adão
Obediência Ativa
Vida Eterna
Antes do Pacto
Na Base da Impecabilidade
Depende de um Mérito

(2) PACTO DA REDENÇÃO = O segundo Adão
Obediência Ativa e Passiva
Salvação e Vida Eterna dos Eleitos
Depois do Pacto
Na Base da Impecabilidade
Depende de um Mérito e Quitar um Débito

(3) PACTO DA GRAÇA = O Homem (substituído)
Arrependimento e Fé
Salvação e Vida Eterna
Depois do Pacto
Feito com Pecadores
Feito em Base Vicária Substitutiva (Rm 4)

O pacto das Obras é baseado na obediência (Aminianismo).
Deus cria o homem e faz um pacto para livrá-lo do estado de queda. Ai ele elaborou o pacto da obediência (pacto das obras) Ativa, ou seja, perfeita que significa “não pecar”, cumprir tudo que Deus quer, ser como Deus em pensamento e ação.
Porém, a verdade é que Deus não se relaciona com pecador, por isso o pacto é feito com individuo que não tem pecado (Cristo).
O pacto da Redenção é muito mais exigente do que o das obras. Tem que ter obediência “ativa e passiva” que é o sofrimento de Cristo.
Salvação para quem tem pecado - Cristo se fez pecador
Vida eterna para quem tem pecado - Cristo é perfeito Deus
Tudo que adão não fez, Cristo fez por ele – Ativo e Passivo.
Obediência Ativa = vida eterna
Obediência passiva = a salvação.
O papel principal do Espírito Santo no processo de nossa salvação é fazer-nos um em Cristo. O Espírito é quem aplica a redenção aos nossos corações e vidas, o Espírito vive ou habita em nós.

SOTERIOLOGIA
A ordo salutis (ordem da salvação)
A ordo salutis descreve o processo pelo qual a obra as salvação, realizada em Cristo, é concretizada subjetivamente nos corações e vidas dos pecadores.
Ordem definida: embora a Bíblia não nos dê explicitamente uma ordem da salvação completa, oferece-nos base suficiente para a referida ordem.
São os vários atos definidos (judiciais/recriados)

A ORDO SALUTIS* 
01 – Graça Comum
02 – Vocação Externa
03 – Regeneração 
04 – Vocação Eficaz
05 – Conversão Ativa
06 – Conversão Passiva
07 – Arrependimento
08 – Fé
09 – União Mística
10 – Justificação 
11 – Justificação Ativa/objetiva
12 – Justificação Passiva/subjetiva
13 – Santificação
14 – Perseverança

A Ordo Salutis, segundo Louis Berkhoff: (Salvos pela Graça de Hoekema)
1. Vocação
2. Regeneração
3. Conversão (incluindo Arrependimento e Fé)
4. Justificação
5. Santificação
6. Perseverança
7. Glorificação

A Ordo Salutis, segundo Murray: (Salvos pela Graça de Hoekema)
1. Vocação
2. Regeneração
3. Arrependimento e Fé
4. Justificação
5. Adoção
6. Santificação
7. Perseverança
8. Glorificação

*Primeiro vem os atos judiciais e depois os atos criadores.
Ordem razoável: não há ordem cronológica, e sim lógica.
- Distinção entre os atos judiciais e os atos recriadores de Deus: como (justificação) alterando o estado ou posição, e estes (como a regeneração e a conversão), alterando a condição de pecador – entre a obra realizada pelo Espírito Santo no subconsciente (regeneração), e a obra realizada na vida consciente (conversão; entre aquilo que se refere ao despojamento do homem velho [arrependimento, crucificação do homem velho]), e aquilo que constitui o revestimento do homem novo (regeneração e, em parte, santificação); e entre o princípio da aplicação da obra de redenção (na regeneração e na conversão propriamente dita), e a continuação dessa aplicação (na conversão diária e na santificação).
- Deus não se relaciona com pecador a não ser por atos judiciais- somente em Cristo, pelo seu ato justo.
- Não pode haver novo pacto de obra com o pecador.
Com o pecado temos conseqüências judiciais e conseqüências naturais.
*Medida com relação à lei = Atos judiciais = altera o estado do homem.
*Medida com relação à natureza humana = Atos recriadores = altera a condição.

O Estado é o ato judicial do pecador.
A condição é aquilo que o pecado alterou no homem.
- Consciente: conversão, justificação (subjetiva).
- Subconsciente: regeneração, justificação (objetiva).
Santificação
Conversão
Regeneração
Justificação = Base
2. O conceito Luterano
A ênfase está no que o homem faz antes daquilo que Deus faz.
3. Conceito Católico Romano
A doutrina da Igreja precede à discussão da ordo salutis. O conceito de igreja visível.
O batismo regenera criança, graça suficiente para adulto, que ilumina a mente fortalecendo a vontade. Também transforma numa graça cooperante.
4. Conceito Arminiano
Crê que o pecado de Adão é limitado, para eles o homem nasce bom. O homem resolve o seu problema do pecado original.
Texto contra os arminianos: Rm. 4: 4-5 e Gl. 5:4
A oferta do evangelho vem a todos os homens, indiscriminadamente, e exerce apenas uma influência moral sobre eles, enquanto eles detêm o poder de resistir-lhe ou de render-se a ele.
- É influência moral porque se não eles irão cair em graça inresistível.
II- Operações do Espírito Santo em geral
Operação geral é na criação e manutenção
Operação especial é soteriologia.
Na criação: operações gerais.
Na recriação: operações especiais- soteriologia.
Nas operações gerais: origina, mantém, desenvolve e guia a vida da criação natural, restringe a determinação e devastação causados pelo pecado; faz os homens manterem certa ordem e decoro; estimula os homens a fazerem o bem; dá talentos e dom da criação ao homem.
Nas operações especiais: origina, mantém, desenvolve e guia a nova vida que nasce do alto, capacita a obediência: Sal e Luz.
Graça e Conceitos- Comum e Especial
A graça comum promove ordem e ações sociais.
A graça comum:
1. Restrição do pecado.
2. Adiamento do julgamento (chuva, vida, comida, saúde, prosperidade etc).
Deus dá a todos os homens
A.) A extensão da graça especial é determinada pelo decreto da eleição. Limita-se aos eleitos.
- A graça comum não sofre esta limitação, mas outorga indiscriminadamente a todos os homens.
Decreto da eleição e da reprovação não tem influência determinante sobre ela. Nem seque ser pode dizer que os eleitos recebessem maior proporção da graça comum que os não eleitos. É matéria de conhecimento geral, os ímpios possuem maior medida da graça comum e tem maior participação nas bênçãos que os justos.
B). A graça especial remove a culpa e a penalidade do pecado, muda a vida interior do homem, e gradativamente o purifica da corrupção do pecado pela operação natural do Espírito Santo. Sua atividade invariavelmente redonda na salvação do pecador. Por outro lado, a graça comum jamais remove a culpa do pecado, não renova a natureza humana, mas apenas tem um efeito restringente sobre a influência corruptora do pecado e, em certa medida, suaviza os seus resultados.
Não efetua a salvação do pecador, embora nalguma das suas formas aparentes (vocação externa e iluminação moral), esteja estreitamente relacionada com a economia da redenção e tenha uma aparência soteriológica.
O processo da salvação não deve ser entendido como uma série de experiências sucessivas, como se segue:
Regeneração- conversão- justificação- santificação- perseverança.
Em vez disso, o processo de salvação deve ser visto como uma experiência unitária que envolve diversos aspectos que começam e continuam simultaneamente.

UNIÃO MÍSTICA
Teologicamente trata da união do crente com Cristo.
Definição: a união íntima, vital e espiritual entre Cristo e o seu povo, em virtude da qual ele é a fonte da sua vida e poder, da sua bendita ventura e salvação.
É uma operação especial efetuada pelo Espírito Santo de maneira misteriosa e sobrenatural. A união mística é o estar em Cristo- justificados mediante a fé salvadora, em santificação.
A união mística com Cristo tem suas raízes na eleição divina (Ef. 1: 3-4)
A base da união com Cristo: a união com Cristo tem sua base na obra redentora de Cristo. Deus Pai apresentou ao Filho um povo a redimido do pecado, e o Filho veio à terra para levar a termo a obra redentora em favor do seu povo. Não podemos pensar na obra redentora de Cristo à parte da união entre Cristo e seu povo, que foi planejada e decretada desde a eternidade.
Real união com Cristo: essa união marca e faz possível o inteiro processo da salvação. Do começo ao fim, somos salvos unicamente em Cristo.
1. Inicialmente somos unidos com Cristo na regeneração ( novo nascimento). A regeneração ocorre no momento em que somos salvos, unidos com Cristo. Essa união não é apenas o inicio da nossa salvação; ela sustém, enche e aperfeiçoa todo o processo de salvação.
2. Apropriamo-nos e continuamos a vivenciar essa união com Cristo pela fé. Pela fé nós realizamos e experimentamos o fato de que fomos feitos novas criaturas em Cristo Jesus.
3. Somos justificados na união com Cristo. Justificação é o ato de Deus pelo qual ele imputa (ou atribui o crédito) aos crentes a perfeita satisfação e justiça de Cristo de tal forma que todos os seus pecados são perdoados e vistos eles são considerados perfeitamente justos aos olhos de Deus.
4. Somos santificados através da nossa união com Cristo. Santificação num censo progressivo pode ser definida como a obra de Deus pela qual o Espírito Santo progressivamente a vida do crente, e o habilita a viver para o louvor de Deus. Esse aspecto da nossa salvação, também só pode ser experimentada em união com Cristo.

VOCAÇÃO EXTERNA
1. O autor da nossa vocação é a obra de Deus trino.
2. Vocatio realis e verbalis.
Vocatio realis (‘res’ coisas); vocação pela revelação geral (a natureza, historia, experiência da vida, ambiente da vida, vicissitude da vida) não leva a salvação- ensina “a lei” (a lei pede) e na odo evangelho.
Vocatio verbalis- (verbum ‘palavras’); o ato gracioso de Deus pelo qual ele convida os pecadores a aceitarem a salvação oferecida em Cristo Jesus. Pela revelação especial (o evangelho dar) pela palavra de Deus, leva a salvação.
O meio da graça “vocatio verbalis” o chamamento divino que chega ao homem por intermédio da pregação da palavra de Deus.
Conceito de Vocação externa: consiste na apresentação e oferta da salvação em Cristo aos pecadores, juntamente com uma calorosa exortação a aceitarem a Cristo pela fé, para obterem o perdão dos pecados e a vida eterna.
a). Elementos contidos na vocação externa
1. Uma apresentação dos fatos e da doutrina da redenção de Adão à Cristo- teologia dos pactos.
2. Um convite ao pecador para aceitar a Cristo com arrependimento e fé. Convite com uma exortação ao arrependimento para crer, aceitar a Cristo pela fé, mas Deus é quem efetua nele tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. Fp. 2;13.

* Esta ordos salutis é do Professor de teologia sistemática Rev. Moisés Bezerril no STNe
Zé Francisco é estudante do 3º ano de Teologia no STNe, Tesrena, Pi.

terça-feira, 22 de junho de 2010

CALVINISMO E CAPITALISMO

Introdução:

Abordaremos sucintamente o papel atribuído a Calvino no desenvolvimento do Capitalismo e as diversas interpretações de sua influência. Historiadores diversos têm ensaiado determinar a influência de Calvino e do Calvinismo na implantação do sistema econômico moderno que desenvolveu no Ocidente e caracteriza a sua civilização. Teses opostas se têm defendido alternativamente, uns fazendo de Calvino o pai espiritual do Capitalismo, outros negando que uma influência moral ou espiritual possa ter qualquer efeito sobre o jogo das forças econômicas.

No trabalho em apreço, nos propomos apresentar de forma sucinta um resumo dos principais argumentos de alguns dos diversos opositores teoristas.

Conteúdo proposto:

1) Max Weber e Ernest Troeltsch

2) R. H. Taeney, H. Hauser e os Modernos

3) Conclusão

Werner Sombart: Os puritanos capitalistas são judeus que se ignoram; Sombart afirmava que os judeus tinham exercido influência sobre a evolução econômica em razão de suas aptidões étnicas, bem como de sua formação intelectual e religiosa. Acrescentava que os puritanos, tal como os judeus, contribuíram para o nascimento do espírito do capitalismo – aparentava com religião judaica

Max Weber: Os puritanos estão na origem do capitalismo. Por quê? Weber esboçava demonstração análoga em relação aos puritanos. “os protestantes, proporcionalmente, são os mais numerosos entre os detentores de capital e os empresários,...
Porque têm eles um espírito capitalista. Que espírito é esse? Bem parece que o protestantismo seja o gerador desse “espírito”. Quais as reais características do espírito capitalista? Indaga Weber... “Benjamim Franklin”: ‘Lembra-te de que: tempo é dinheiro”; crédito é dinheiro; o dinheiro é prolífico e produtivo; segundo um provérbio, um bom pregador é senhor de todas as bolsas’...

Ganhar é um dever: Todos os sentimentos, a honra, a pontualidade, o zelo, a sobriedade são visualizações sob o ângulo do lucro - O “Summum bonum”,... Não por gozo, mas por motivo de consciência: a moral é condicionada pelo sistema econômico. O sistema criou uma “superestrutura” da sociedade, não o inverso. Condição de progresso: liberação de tradição: De onde provem este espírito capitalista?
Os protestantes emprestaram ao trabalho seu sentido cristão: uma vocação: Esse ensino reformado proclamou que a atividade profissional e a função social tinham valor moral e religioso; E por quê? Por causa do dogma da predestinação... O dogma da predestinação engendrou o individualismo: Este individualismo sagrado é comunicado pelo Calvinismo a toda organização social criando um sentimento profano nas populações protestantes secularizadas Lutero já havia dito, mas em Calvino há um matiz muito importante: “o autêntico serviço do próximo é a busca da glória de Deus e não a glória da criatura. Este é o fim último comum a todos os atos e a todas as atividades da vida que dá à existência inteira, segundo a moral calvinista, um caráter ascético”, E transformou o ascetismo medieval em moral e ação – Todos os atos do indivíduo tem um valor religioso.
Como Engendrou esta Moralidade o Sistema Capitalista? Qual a relação entre a ascese profissional calvinista e o surto do capitalismo? Richard Baxter foi um dos mais típicos representantes desta ética puritana oriunda do calvinismo – eminentemente irônico e universalmente conhecido por seu incansável labor e dinamismo em busca de inovações e empreendimentos novos... os puritanos vão muito além de Calvino e anunciam uma ascese que repudia toda busca deliberada dos bens temporais.“A pregação puritana insiste de modo cada vez mais acentuado, no valor moral e religioso do trabalho. O trabalho é colocado acima de tudo mais como o alvo que Deus destinou à vida dos homens”.
A nova moral engendra a divisão do trabalho e o dinamismo do empreendimento – Na questão da divisão do trabalho e da solidariedade das profissões na vida social, Weber observa que o puritanismo exibe uma concepção nova. A ascese voluntária unida à alta produtividade utilitária engendra necessariamente a poupança O ascetismo profissional protestante age, no desenvolvimento do capitalismo, na sua moral e no ativismo prático, estimulando a produção para o enriquecimento. Ademais, insiste o puritanismo sobre a economia pessoal: “o homem não é senhor de seus bens e sim gerente e dar conta do mínimo centavo. Tudo deve servir a só glória de Deus, quanto maior a riqueza, maior a responsabilidade diante de Deus”.
Característica dos ricos protestantes: Elegância austera - Define-se pelo estilo de conforto puritano que o “espírito capitalista”. Caracteriza-se pela tendência de produzir muito e consumir pouco, levando-o ao acúmulo de capital – evolução econômica na Nova Inglaterra, como também na Holanda.
A secularização do espírito protestante engendra o espírito burguês e conduz ao realismo cruel do mundo dos negócios – O entusiasmo religioso foi secularizado e esvaziou-se das preocupações espirituais anteriores.

Ernest Troeltsch: Com Calvino passa-se da noção medieval estática da profissão e da sociedade à noção dinâmica moderna.
“Calvino compartilha com Lutero” a noção da vocação profissional, fazendo do trabalho, culto a Deus e meio de subjugar o corpo e lutar contra as tentações da carne... Se Lutero não pensava que fosse lícito deixar o quadro profissional, que se havia escolhido, Calvino tinha uma noção inteiramente dinâmica da profissão e da sociedade. Ele se preocupava em dar ocupação aos pobres e desocupados – sua concepção em relação ao empréstimo a juros, difere radicalmente de Lutero.

Crítica destas doutrinas - Refutando os teoristas
A luz do pensamento econômico e social de Calvino, não é difícil observar tudo que há de justo e tudo que há de fundamentalmente falso nas afirmações de Weber e Trocltsch. Certamente existe correlação entre os fatos assinalados nas diversas seitas puritanas do séc. XVIII, o erro é identificar o puritanismo do séc. XVIII com o calvinismo de Calvino Quatro caracteres falsamente imputados ao Calvinismo:

1. Primado da predestinação;

2. Ascética do trabalho;

3. Desprezo dos prazeres e;

4. Virtude da poupança;

Émile Doumergue diz: contestáveis as teses de Weber, justa, no entanto, a conclusão.
Ele consagrou numerosas paginas à refutação das teses da Escola de Heidelberg (Weber e Troesltsch).
Por um lado, mostra a oposição que há entre as teorias de Weber e a doutrina de Calvino quanto ao ascetismo, ao luxo, ao dinheiro, (o espírito calvinista e o capitalismo) por outro, pensa, no entanto, que os protestantes têm sido mui naturalmente colocados no comando das indústrias capitalistas, graças à estrita moral do trabalho e da economia que o calvinismo lhes inculcou.

Georges Goyau: Não é a doutrina, mas o individualismo calvinista secularizado, que engendrou o individualismo capitalista
“não é a doutrina, mas o individualismo calvinista secularizado, que engendrou o individualismo capitalista em Genebra”. – Tanto Goyau como outros opositores, tratavam de idólatras os Genebrianos – “Homens do deus dinheiro”, para esses, Genebra permanece, em todos os domínios, a teórica e advogada dos direitos absolutos do individuo.

Louis Rougier – (1889-1982) Filósofo francês, professor de filosofia na Universidade de Besançon. Primeiro adversário do liberal e crítico do Capitalismo. Ele se tornou um dos promotores do chamado “Neoliberalismo“.
“O Calvinismo é a glorificação das virtudes burguesas” Ele retoma as teses de Weber e acusa Calvino de “exaltar a parcimônia, forçada até à avareza”, Assim que, no Reformador, o culto do trabalho e a parcimônia se compõem em uma força de poupança que produz o acúmulo de capital”. Ele também retoma as teses de Sombart, para afirmar que “os elementos do dogma puritano, não eram senão empréstimos às ideias que formam a base da religião judaica.

R. H. Tawney: Historiador econômico britânico (1880–1962) Professor de História Econômica, Universidade de Londres; observou que o puritanismo é um calvinismo deformado e secularizado.
Sobre a evolução econômica: “O puritanismo contribui para plasmar a ordem social, mas ele próprio foi mais e mais dela plasmado”; Analisou os textos originais de Calvino a respeito do empréstimo a juros; criticou Weber quanto ao espírito capitalista e diz que Calvino poderia protestar dizendo: “Eu não sou calvinista”... Ele considerava a concepção calvinista do capital como uma real linha divisória de águas...

Henri Hauser – 1866-1946. Calvino, pai do capitalismo, não, porém, do Capitalismo Como o liberalismo o fez evoluir. refuta as teses de Weber, mostrando que o Calvinismo nada tem em comum como o capitalismo puritano.
O historiógrafo francês, entregou-se à análise minuciosa dos textos de Calvino referente ao empréstimo a juros, que o levou, praticamente as mesmas conclusões de Tawnay “Calvino é o primeiro dos teólogos cristãos a interpretar, de maneira pertinente, os textos bíblicos relativos à usuras diferentemente da Escolástica tradicional do raciocínio lógico que postulava que “o dinheiro não pode produzir dinheiro”... comunga com Dumergue, Weber e Troclsch, sobre a influência única de Calvino sobre a evolução do pensamento religioso

André E. Sayous: recusa-se a ver entre calvinismo e capitalismo uma relação de causa e efeito. Para ele, “a influência que o calvinismo exerceu sobre os negócios durante a segunda metade do séc. XVI não pôde ser senão restrita por motivos de ordem moral. Ninguém foi mais autimamonistas que Calvino”.
Capitulação do Calvinismo genebrino posterior diante dos problemas sociais.
“É, então, verdade que onde a predestinação e a vocação quase não mais se constituíam o objetivo de discussão senão entre os teólogos, haja os homens de negócio protestantes retido a moldura mais do que o fundo destas doutrinas religiosas, para justificar sua atividade diante de Deus, e indiretamente diante de si mesmo?

Frédéric Hoffet: os calvinistas trabalhados inquietos Retoma sem citá-las, as teses de Weber, e as transpõe à história contemporânea. Constata-se hoje, diz ele, que os países poderosos e ricos são os protestantes, pois as riquezas naturais não explicam este fenômeno – a riqueza dos Estados Unidos é o seu poderio. Mas, outros países, igualmente ricos jamais atingiram um grau de riqueza simplesmente aproximado. Assim é que o México permaneceu pobre e as Repúblicas Sul-Americanas esperam a chegada dos protestantes do Norte para explorar os seu prodigiosos tesouros.

John U. Nef: sobre a gênese da civilização industrial, procurou determinar as causas do surto econômico do Ocidente; e é na Reforma que as pretende achar. Para ele, a civilização industrial é diferente de todas as civilizações anteriores pelo fato de que a busca do quantitativo leva a alma a buscar o qualitativo. Seria errôneo confundir civilização industrial e capitalismo.

Os reformadores tiveram grande papel na evolução da história econômica, diz Nef; não em razão de suas doutrinas relativas à moral econômica, não muito diferente do ensino tradicional, quanto em virtude de suas concepções de igreja.
Com a Reforma, os bens da igreja foram secularizados e a influência desta em favor de uma produção qualitativa diminuiu. “De todos os pontos de vista, a função da igreja e do clero na vida foi reduzida pelo protestantismo. O que caracteriza o Protestantismo, em face do Catolicismo – reforjado pelo Concilio de Trento é um pessoal e uma renda muito reduzidos, pouca propriedade predial, poucas cerimônias, indisposição, por vezes mesmo uma ojeriza, para com as imagens e a maior parte das obras de arte religiosas consideradas como puras manifestações de idolatria.
Nef contradiz a tese de Sombart que presume que as guerras – e notadamente as de religião – contribuíram para a aceleração da produção industrial.

CONCLUSÃO

Qual é, em definitivo, a influência de Calvino sobre o desenvolvimento do capitalismo hodierno?
Com base no exposto, é possível fazer algumas observações à guisa de conclusão:
1) É a grande distância que separa Calvino do calvinismo posterior e, particularmente, do protestantismo reformado e do puritanismo contemporâneos da revolução industrial – sem analisar as causas das transformações que sofreram os herdeiros do Reformador no domínio de fé e da ética social; permitido nos é afirmar que não é lícito imputar a Calvino e ao Calvinismo original a influência, sadia ou não, que seus longínquos descendentes poderiam ter tido sobre o desenvolvimento do capitalismo.
2) Não se pode fugir à verificação de que a atitude e o pensamento de Calvino representam, de fato, uma virada na história das relações entre a igreja e o mundo econômico e social.
3) A principal característica da atitude reformada, em relação ao mundo, reside na distinção muito clara se faz entre a vida de fé e a vida política e na natureza do elo que une estas duas esferas da existência.
Enquanto, no curso dos séculos, a teologia ora funde estes dois mundos, ora separa de forma absoluta, Calvino os situou numa relação judiciosa que não os contrapõe nem confunde. O Calvinismo de origem contribuiu para tornar muito mais fáceis, no seio das populações reformadas, o desenvolvimento da vida econômica e o surto do capitalismo nascente.
O Calvinismo de origem contribuiu para tornar muito mais fáceis, no seio das populações reformadas, o desenvolvimento da vida econômica e o surto do capitalismo nascente.
Calvino não admitia, nem esboçava, a ideia de que para o cristão, a vida econômica e financeira pode ter suas próprias regras morais e subtrair-se ao eterno desígnio do amor e da justiça de Deus para os homens; ele se opôs, com máximo vigor, aos vícios e aos perigos do capitalismo. Não é possível, honestamente, atribuir a Calvino a responsabilidade da evolução do capitalismo sob sua forma histórica. Não pôde o capitalismo desenvolver-se, sob esta forma, entre populações protestantes, senão em função de um afrouxamento da doutrina e da moral reformada.


Síntese Organizada por:Zé Francisco - Aluno do STNe em Teresina, Pi


(Retirado do Livro “O Pensamento Econômico e Social de Calvino”, André Biéler – Capítulo VI, Pp.621 – 662).

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um Pouco de Ética Vista por João Calvino

Sobre a vida Cristã

Tal como na filosofia a religião Bíblica trata de algumas finalidades como: da honestidade e da retidão dos quais se deduzem os deveres particulares e todas as ações próprias de cada virtude, porém, de maneira muito melhor e mais certa em função do Espírito Santo.

Divisão Bíblica do assunto

1. Visa imprimir em nosso coração o amor pela justiça, para o qual por natureza nós somos inclinados.

2. Visa dar-nos uma regra definida para que, seguindo-a não fiquemos vagando sem rumo certo e não edifiquemos mal a nossa vida.

• Padrão divino – Santidade

• Sede santos porque Deus é santo (1Pe 1.16)

• Somos ovelhas com pastor – comunhão, união, santidade

• Quem habitará no seu Tabernáculo (Sl 15.1-2)

• Cristo, nosso redentor e nosso modelo

A Escritura nos desperta vivamente, demonstrando que, assim como Deus em Cristo nos reconciliou consigo, assim também Ele nos constituiu em exemplo e padrão ao qual devemos nos moldar-nos. Portanto, o bem dos filhos de Deus é tornar-se cada vez mais identificado com o seu Senhor (Rm 8.29-30). Devemos ter diante de nossos olhos como nossa meta a perfeição que Deus ordena para a qual todas as nossas ações devem ser canalizadas e a qual devemos visar – “A vontade de Deus é a regra pela qual devemos regulamentar todos os nossos deveres” (As Pastorais de Calvino, p. 59). Assim sendo, é dever cristão fazer todos os esforços possíveis para alcançar a perfeição sem acariciar o ego com vã adulação ou desculpas dos erros morais. Calvino diz: “Sejamos cada dia melhores do que somos, ate alcançarmos a bondade suprema, que devemos buscar durante toda a nossa vida, pois, não somos de nós mesmo” (Rm 12.1; 14.7,8)

Serviço a Deus

O cristão deve obediência a Palavra de Deus, como também o despojar dos próprios sentimentos, convertendo-se e sujeitando-se ao Espírito de Deus – transformação pela renovação da mente (Rm 12.2). Devendo, ele, buscar o que agrada e glorifica a Deus, não a si mesmo – esquecer de si mesmo, dedicando-se com fidelidade e diligente esforço para obedecer aos Mandamentos – deixar de lado pecados como a avareza, a ambição, glória humana e outros males ocultos. A abnegação ou renúncia de nós mesmos em parte visa o bem dos homens e principalmente, visa à nossa relação com Deus.

A Escritura nos ordena que nos portemos de tal maneira para com os homens que os prefiramos em honra a nós próprios; é dever nosso promover o seu progresso. Calvino nos alerta que o nosso coração tende a não cumprir os Mandamentos, a não ser que nos esvaziemos de nós mesmos para exaltar a Deus – Não há ninguém que, no íntimo do seu coração, não alimente a fantasia de que tem dignidade superior à de todos os demais.

Para que aja bons relacionamentos, é necessário tratamento de modéstia e moderação, como também brandura e companheirismo – “Ninguém jamais chegará por outro caminho à verdadeira mansidão, a não ser dispondo-se de coração a rebaixar-se a si mesmo e a exaltar os outros”. (O amor de 1Co 13.4-7)

“É difícil cumprir o dever de trabalhar pelo proveito do próximo. É preciso deixar de lado a consideração de si mesmo e despojar-se de todo afeto ou interesse carnal, para fazer alguma coisa nessa esfera. É difícil deixar perder nossos direitos para cedê-los ao nosso próximo por causa do orgulho persistente, a autoconfiança e a falta de humanidade”.

Só o amor nos habilita a mortificar-nos – Não consiste em apenas cumprir todos os deveres, mas em cumpri-los movidos pelo verdadeiro amor. Primeiro, devemos nos colocar no lugar da pessoa que tem necessidade de ajuda; Segundo, que tenhamos piedade, como se estivesse passando pela mesma situação e; Terceiro, deixarmos ser movido pelo sentimento de misericórdia ao ajudá-lo, como se fôssemos os necessitados de socorro.

O modo legítimo de usar tudo que recebemos pela graça do Senhor, é compartilhando fraternalmente e liberadamente, visando ao bem do próximo. (1Co 12.12; Ef 4.15,16). Precisamos fazer o bem a todos, quer mereçam quer não – Não nos cansemos de fazer o bem (Gl. 6.10) a todos os homens, considerando em todos eles a imagem de Deus, ao qual devemos honrar e amar; qualquer um que necessite do nosso auxílio, nada justifica que nos negaremos a servi-lo, fazendo para Deus (Is 58.7; Mt. 5. 39-45).

Sobre a prática de Caridade, Calvino diz: “Ao praticar uma caridade, os cristãos deveriam ter mais do que um rosto sorridente, um expressão amável, uma linguagem educada (...). Em primeiro lugar, deveriam se colocar no lugar daquela pessoa que necessita de ajuda” (A verdadeira vida cristã, p. 39)

Devemos Honrar a Deus

O comportamento Cristão na riqueza e na pobreza; a partir dos princípios estabelecidos nas Institutas:

• Em tudo devemos contemplar o Criador e dar-lhe graça;

• Devemos cultivar o tipo de sensibilidade espiritual que nos faça enxergar com gratidão e louvor os atos de Deus em nossa existência, a fim de não sermos injustos para com Ele;

• Os recursos de que dispomos devem ser um estímulo a sermos agradecidos a Deus por Sua generosa bondade;

• Não devemos buscar honras, riquezas e alta posição sobre os quais pesa a maldição de Deus. Seria loucura querer algo que traz infelicidade, pois o único meio de prosperar é a benção de Deus e sem ela nos sobrevirão misérias e calamidades. Não devemos, por isso, procurar conseguir riquezas, nem usurpar honras a torto e a direito, pela violência, por trapaça e por outros meios escusos, mas buscar obter o que não nos faça culpados diante de Deus.

Carregando a cruz

• Os da família de Deus devem preparar-se para uma vida de dureza, de luta, de inquietude e de tribulação de vários tipos, pois é vontade de Deus que sejam provados e exercitados (Mt 16.24).

• Sabendo que somos inclinados a amar este mundo presente, Deus emprega meios mais apropriados para evitar que nos apeguemos excessivamente a ele. Para corrigir este mal o Senhor nos dá prova constante da vaidade desta vida por meio de aflições e angústias.

• A terra deve ser para o cristão apenas um lugar de peregrinação, por isso deve-se fazer uso das suas coisas boas de tal maneira que os ajudem, e não impeçam, em sua viajem ao reino celestial.

Regras gerais das Escrituras que orienta o cristão

• Saber usar as dádivas de forma correta com a finalidade para as quais Deus criou, ou seja, para o bem e não para a ruína (ex: comidas, ervas, árvores e frutos); por isso, tudo foi considerado bom.

• Não há trabalhos insignificantes: “Se seguirmos fielmente nosso chamamento divino, receberemos o consolo de saber que não há trabalho insignificante ou nojento que não seja verdadeiramente respeitado e importante ante os olhos de Deus”.

• O amor ao próximo faz com que o nosso honesto trabalho não se limite a satisfazer as nossas necessidades, mas, também, a ajudar aos nossos irmãos.

• O trabalho está relacionado com o progresso de toda a raça humana.

• A doutrina da justificação pela fé nos reconcilia com Deus, anula o poder das obras para a salvação, nos declara justo, porém nos exorta a glorificar a justiça de Deus em Cristo, que é o justificador daquele que crê. A doutrina da justificação não nos torna inimigos de boas obras, pois elas têm o seu lugar de utilidade para a glória de Deus.

A liberdade cristã, conforme Calvino consiste em três coisas:

1ª. A lei não pode fazer com que o homem seja justo; para isso ele precisaria de toda a lei.

2ª. Como podemos prestar obediência à vontade de Deus alegremente, se soubéssemos que a imperfeição da nossa obediência apenas obteria sua maldição? Somos libertos para obedecer a sua vontade.

3ª. Quanto às coisas indiferentes (que não são ordenadas nem proibidas), os crentes não sejam, impedidos por qualquer escrúpulo de consciência devido usar ou abster-se delas, conforme requeira a ocasião – “Eu sei” diz Paulo, “e disso estou persuadido no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é em si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera, para esse é impura” (Rm 14.14). Com essas palavras ele nos dá liberdade para usar todas as coisas, se essa liberdade for permitida por nossa consciência diante de Deus. Resumindo, o cristão tem liberdade para usar todas as dádivas de Deus sem escrúpulos ou inquietude, desde que somente as usem para a finalidade a qual Deus as deu, ou seja, sua própria glória.

Por fim, para que não compliquemos tudo, por nossa temeridade e loucura, Deus ordenou a cada um, o que fazer, estabelecendo distinções entre posições ou estados e diversas maneiras de viver. E, para que ninguém ultrapasse levianamente os limites, deu tais maneiras de viver o homem de vocações (profissões).

Da oração do Senhor, Calvino extrai o princípio de que devemos nos preocupar com todos os necessitados. Contudo, sabendo da impossibilidade de conhecermos a todos e de termos recursos para ajudar a todos os que conhecemos, ele diz que a ajuda não exclui a oração nem esta àquela. Portanto devemos orar por todos.

Não conseguimos expressar em tão poucas palavras o que Calvino escreve sobre a vida Cristã. Porém procuramos de forma sucinta, apresentar o que entendemos como indispensável, embora estejamos certos de que muitas outras coisas poderiam ser dito. Porém, aprendemos que, para vivermos o que Calvino propõe nas Institutas sobre “Vida Cristã”, só será possível mediante a graça de Deus e a obediência as Escrituras Sagradas.




* Trabalho apresentado por Zé Francisco na Disciplina “Cosmovião Calvinista aplicada pelo Profº Rev. José Alex – Capelão do STNe, Teresina - Pi.